Diretor e produtor de “BRICHOS” fala com exclusividade para o Planeta Tela Brasil

Já está em cartaz em várias cidades brasileiras a animação em longa metragem “Brichos”, dirigida e produzida pelo parananese Paulo Munhoz (veja mais informações no link “Críticas” do nosso site). Esta verdadeira ação guerrilheira do cinema brasileiro, que busca seu espaço diante de feras internacionais como Pixar e DreamWorks, demorou praticamente cinco anos da idéia original até o seu lançamento.
Quem conta a história, exclusivamente para o Planeta Tela Brasil, é o próprio Paulo Munhoz:

Planeta Tela Brasil – Como surgiu a idéia do projeto “Brichos” e quanto tempo ele demorou pra ficar pronto?
Paulo Munhoz – A idéia surgiu lá pelos idos de 2002, quando eu buscava criar uma turma de personagens que desse conta de várias histórias que eu tinha em mente. Pensei em grupos familiares, jovens, crianças, seres não reais, etc. O conceito BRICHOS surgiu quando me dei conta do fato de que os brasileiros, justamente o povo que habita a maior biodiversidade do planeta, não enxergam a sua própria fauna. Exemplo: pergunte para alguém o nome de um animal. Independente da idade vão surgir leões, elefantes, tigres, girafas, etc. Pegue nome de empresas brasileiras: TIGRE, GIRAFAS, MATE LEÃO, ETC. Até a nossa própria distribuidora se chama PANDA. Ou seja, eu teorizei o seguinte: como não aparecem os animais brasileiros nas telas da TV e do cinema, eles não ficam no imaginário nacional. Da mesma forma, o brasileiro não consegue se enxergar nesses espelhos.
E isso é incrível, pois temos a maior fauna com espécimes exuberantes. Por exemplo, a maior serpente: SUCURI. A maior águia: HARPIA. O maior jacaré: JACARÉ-AÇU. E, na minha opinião, o rei do design animal é o TAMANDUÁ. Além de quatis, jaguares, antas, cutias, insetos aos milhões, peixes, botos, etc etc etc.

Planeta Tela Brasil – Daí pra o nome “Brichos”…
Paulo Munhoz – Quando tive essa idéia, foi um daqueles momentos em que a gente se ilumina mesmo. Daí para o nome BRICHOS foi imediato. Cheguei a pensar em BRANIMAIS, mas BRICHOS me soou mais brasileiro, mais pé no chão, mais sutil, mais carinhoso. A seguir fiz uma pesquisa mais aprofundada sobre a fauna e como tenho um antropóloga em casa, a pesquisa nesse campo foi facilitada. Criei o contexto da VILA DOS BRICHOS, pensei na Arquitetura como sendo uma mescla de modernismo brasileiro com eco-design. Ao mesmo tempo criei os personagens como conteúdo. Depois chamei meu parceiro Antonio Éder, para a elaboração das formas, pensando já na facilitação da produção. Depois chamei o Érico Beduschi para um roteiro em dupla, o Vadeco para a música, o Tadao com sua experiência em 2D e fomos agregando mais BRICHOS ao longo do tempo.

Planeta Tela Brasil – É mais difícil desenvolver um projeto destes estando fora do eixo Rio/SP?
Paulo Munhoz – Creio que sim, na medida em que falta ainda aos governantes e grandes empresários de fora do eixo, o entendimento do audiovisual como estratégico, sob diversos pontos de vista. Por outro lado, na disputa por verbas nacionais, o peso de Rio e São Paulo é muito grande. BRICHOS é o primeiro longa de animação feito no Paraná, não teve nenhum apoio de governo estadual ou municipal, nem de empresários locais, mas acho que está mudando paradigmas. Conseguimos fazer o filme com apoio da Petrobrás e apoio do BNDES, via Edital de Cinema. Ambas situações de concursos muito difíceis e muito disputados. Creio que a originalidade de nosso conceito e a boa estruturação do projeto contaram muito. No Paraná, no atual governo já temos – finalmente – um edital estadual de apoio à produção. Um projeto nosso, de telefilme em animação foi selecionado no ano passado, o que nos permitiu manter o núcleo da equipe original do BRICHOS em atividade. Creio que isso já seja reflexo do efeito BRICHOS. Em Curitiba há uma lei de incentivo municipal que funciona muito bem e possibilita a produção de curtas. Fizemos o livro com esse mecanismo.

Planeta Tela Brasil – Você acredita que a animação brasileira deve brigar de igual para igual com as “Pixar” da vida, encontrar rumos alternativos ou nenhuma desta opções?
Paulo Munhoz – Eu tenho muita fé na animação brasileira. E creio que o nosso caminho é buscar uma alternativa que tenha a ver com nossas condições de produção. Mas acho que será uma opção de cada estúdio.
Por exemplo, as opções de método, design e tecnologia do BRICHOS são muito bem pensadas nesse sentido. Creio que apostamos em saídas que estão dando certo. Um exemplo disso é a música do filme, que fugiu do padrão orquestrado para uma trilha mais afeita a ritmos e texturas brasileiras. Num próximo projeto gostaria de trabalhar mais os traços e sombras, mas ainda aposto no 2D.
Uma questão complicada é a formação de gente e manter a equipe ativa. Precisamos criar um círculo virtuoso de produção continuada.

Planeta Tela Brasil – Já existem outros longas seus engatilhados?
Paulo Munhoz – Na verdade já temos o projeto de outro longa dos BRICHOS pronto. No momento estamos produzindo um telefilme em animação, baseado na obra “Guerra Dentro da Gente”, de Paulo Leminski. É um filme completamente diferente dos BRICHOS e voltado ao público jovem. Vai ser uma boa experiência para a equipe. O roteiro é bastante ousado e a cara do filme está ficando impactante. É outro projeto de baixo orçamento e muita garra, muito trabalho, muita paixão.