DIVERSIDADES TEMÁTICA E ESTILÍSTICA NA ÚLTIMA NOITE DO GUARNICÊ.

Por Celso Sabadin, especial de São Luís.

 

A última noite da Mostra Competitiva do 39º Festival Guarnicê de Cinema (10/06) foi uma amostra da diversidade da atual safra da produção cinematográfica brasileira, mesclando diversos gêneros, estilos e linguagens.

Vindo do Rio de Janeiro, o primeiro curta exibido foi “Tem Alguém Feliz em Algum Lugar”, escrito e dirigido pela dupla Álvaro e Mário Furloni. Toda a ação se passa no dia do fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha, na Copa de 2014, “mas não é um filme sobre futebol”, como advertiu Álvaro Furloni ao apresentar seu trabalho no Teatro da Cidade. Trata-se do encontro intimista de dois pequenos dramas urbanos que têm em comum a solidão, a ambientação num prédio de apartamentos carioca, e o clima de esperanças frustradas potencializado pela derrota brasileira. Tudo pontuado por um visível apuro técnico e convincentes interpretações do elenco.

 

Em seguida foi a vez do mineiro “Rapsódia para um Homem Negro”, de Gabriel Martins, diretor que dedicou a exibição de ontem “a todas as ocupações do Brasil”. Explica-se: mesclando alegorias a uma linguagem poético-teatral que também flerta com o estilo naturalista, o filme faz uma amálgama da centenária questão das ocupações no Brasil. Através do personagem Odé, rapaz que tem um irmão espancado até a morte, questiona-se se o que chamamos hoje de ocupação não seria, de fato, uma retomada das terras que foram anteriormente ocupadas. Uma reocupação, talvez.  A obra é cifrada e intrigante.

 

Também de Minas Gerais (e da mesma produtora, a Filmes de Plástico) o terceiro filme da noite foi “Quintal” (foto),  bastante consagrado em vários festivais nacionais e internacionais. O roteirista e diretor André Novais Oliveira (que também faz uma breve participação em “Rapsódia para um Homem Negro”) diverte, encanta e intriga ao mostrar o que parece ser o simples cotidiano de um casal de idosos (interpretados pelos próprios pais do cineasta). Porém, quando elementos surreais são introduzidos na trama com a mais absoluta naturalidade,  cria-se um forte elo de empatia e estranhamento com a plateia, que acaba invariavelmente sucumbindo aos encantos do filme. Que, não por acaso, foi o mais aplaudido da noite.

 

Finalizando a sessão de curtas, o maranhense “O Assalto”,  fortemente com o público não apenas por ser uma produção local, como também por tratar, com bom humor, de um tema familiar e recorrente: a violência urbana.  Apoiada na agilidade e na inventividade dos diálogos, toda ação se desenrola dentro de ônibus em movimento, onde um “assaltado em potencial” tenta convencer o seu provável futuro assaltante a não entregar seu celular e deixá-lo sair em paz.

 

E a noite foi encerrada com o politemático longa metragem “Ralé”, de Helena Ignez, que a própria diretora classificou em sua apresentação como “um filme sobre um monte de coisas”. E nem poderia ser diferente. Musa do movimento Cinema Marginal, nos anos 60, e ex-esposa do inquieto e ousado cineasta Rogério Sganzerla, Helena cria em “Ralé” um painel-homenagem ao estilo cinematográfico daquela época, imaginando um filme dentro de outro filme, e se propondo a investigar aspectos da alma libertária brasileira.  Djin Sganzerla, Simone Spoladore, Ney Matogrosso e José Celso Martinez Correa são destaques do elenco.

 

O 39º Festival Guarnicê de Cinema será encerrado neste sábado (11/06) com a revelação dos vencedores.

 

Celso Sabadin viajou a São Luís a convite da organização do evento.