DOCUMENTÁRIO SOBRE OS NOVOS BAIANOS FAZ BRASÍLIA CANTAR.

Contagiado pelo clima de Brasília, afirmo: nunca antes na história deste país foram produzidos tantos documentários sobre músicos brasileiros. Nosso cinema continua dando gás total na (ótima) onda de produzir documentários sobre músicos, cantores, compositores e/ou movimentos musicais da nossa MPB. Depois de contar, nas telas, as vidas e as obras de Cartola, Simonal, Arnaldo Baptista, Dorival Caymmi, Bethânia (várias vezes), Caetano, Waldick Soriano e tantos outros (fora os que ainda virão), a produção cinematográfica do nosso país dá mais uma bola dentro com o delicioso “Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano”, de Henrique Dantas, representante baiano na Mostra Competitiva do 42º.Festival de Cinema de Brasília.

Com muitas imagens de arquivo, montagem ágil e depoimentos hilariantes (claro, Tom Zé entre eles), o filme mostra a inovadora e revolucionária experiência de música e de vida proposta (e conseguida) pelos Novos Baianos, grupo que nem nome tinha quando começou a se apresentar. Eram vários os seus integrantes, uns mais conhecidos do grande público que outros: Moraes Moreira, Galvão, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi, Didi Gomes, Jorginho Gomes, Gato Félix, Bola Moraes (já falecido) e Charles Negrita. Provavelmente você não se lembra de todos. Mas também muito provavelmente ainda está nos ouvidos dos quarentões de hoje a música “Pombo Correio”, que encerrava todas as tardes o Jornal Hoje da Rede Globo. E também a voz da então Baby Consuelo (depois Baby do Brasil) ao som da guitarra de Pepeu Gomes.

Os Novos Baianos marcaram época. Apadrinhados, influenciados e incentivados por João Gilberto (daí o título do documentário), eles criaram não somente uma nova maneira de fazer Música Brasileira, como também conseguiram – pelo menos por seis anos – viver numa espécie de sociedade alternativa, uma comunidade utópica concretizada sob a forma de um sítio alugado onde os integrantes do grupo criavam, compunham, comiam, bebiam, dormiam, jogavam bola e fumavam sem medo da felicidade. Dizem os depoentes que o dinheiro de todos eles, obtido através dos contratos com a Gravadora Som Livre, ficava num saco pendurado atrás da porta. Quem precisava de dinheiro, ia lá, pegava, e pronto. E que o grupo preferia gastar tudo o que eventualmente sobrasse em material esportivo para jogar peladas de futebol no campinho de terra do sítio.

As imagens de arquivo desta época são um dos pontos altos do filme.

O documentário também fala de contracultura, carnaval, cinema marginal brasileiro, tropicalismo, ditadura militar, enfim, um painel histórico-poético-lúdico-musical do Brasil de um Brasil pós-Bossa Nova.
A lamentar somente a ausência de depoimentos de Baby do Brasil, que chegou a gravar entrevistas mas que nunca autorizou a veiculá-las no filme. Henrique Dantas, roteirista, diretor e produtor executivo do documentário, afirmou aqui no Festival de Brasília que até hoje não sabe exatamente por que ela fez isso.
Azar dela. Perdeu a chance de se eternizar em mais um ótimo documentário musical brasileiro.