“DORMIR DE OLHOS ABERTOS” TRAZ O PEDAÇO CHINÊS DO RECIFE.

Premiado em Berlim, o filme estreia em 11 de setembro.

Por Celso Sabadin.

Existe um silencioso abismo cultural entre brasileiros e chineses, na barulhenta cidade do Recife. É o que mostra “Dormir de Olhos Abertos”, coprodução entre Brasil, Argentina, Taiwan e Alemanha que estreia em cinemas nesta quinta-feira, 11/09.

É na capital pernambucana, mais precisamente nas famosas “Torres Gêmeas” (apelido dos enormes e bizarros edifícios Pier Maurício de Nassau e Pier Duarte Coelho, agressivamente espetados no bairro São José), que um grupo de jovens chineses realiza seus negócios sustentados pelo comércio popular. (Curiosamente, um filme ambientado em Torres Gêmeas estreia em 11 de setembro).

Mergulhados no típico silêncio oriental, eles tentam vender guarda-chuvas numa cidade em que chove pouco, ou boias infantis em praias infestadas por tubarões. Eles trabalham para alguém que nunca aparece, e não compreendem porque os brasileiros colocam a palavra “não” no final de todas as frases que dizem. Cartões postais feitos na China – com cenas brasileiras – são escritos por alguém que jamais os enviará. Afinal, quem ainda envia cartões postais?

A língua é uma barreira. A necessidade de ganhar a vida, uma ponte.

É através destes introspectivos e poéticos instantes que o filme se desenvolve, e lentamente conquista os corações da plateia. Pelo menos conquistou o meu.

Este delicado mosaico de dúvidas e inseguranças potencializa a sensação de uma distante solidão e um não pertencimento que reagem da mesma forma nas mais diferentes situações. Quer uma melancia se exploda repentinamente no chão da área comum dos prédios gigantes, quer uma “chuva de dinheiro” apareça pelas janelas do lugar (o caso, aliás, tem base numa história real de 2015).

Com roteiro do argentino Pío Longo e da própria diretora, a alemã Nele Wohlatz, “Dormir de Olhos Abertos” tem como sua  coprodutora brasileira a CinemaScópio, de Emile Lescaux e Kleber Mendonça Filho.

Veja de olhos bem abertos.