E NÓS, COMO IDIOTAS, FICAMOS SÓ ASSISTINDO.

Por Celso Sabadin.

O título deste texto é uma tradução livre de “E noi come stronzi rimanemmo a guardare” – um dos longas em destaque da 8 1/2 Festa do Cinema Italiano no Brasil – que está sendo exibido como “Tempos Super Modernos”.

Como se percebe, o título italiano é muito melhor que o brasileiro. Mesmo porque se aplica perfeitamente não apenas à atualidade do universo mundial das redes sociais, como também à situação de horror pela qual passa o Brasil.

Ah, antes que eu me esqueça: trata-se de uma comédia. Ácida e corrosiva, mas com a formatação básica de comédia.

Tudo se passa num futuro próximo, no qual Arturo (Fabio Di Luigi) leva um pé na bunda de sua noiva. Motivo: um aplicativo mandou. Eles se dão bem, parecem apaixonados, prestes a se casar, mas se o aplicativo previu que o casamento não daria certo, não há mais nada a fazer: ele é o novo oráculo infalível que deve ser cegamente obedecido.

Abalado, o rapaz ainda tem outro problema: está sem dinheiro. Arruma então um subemprego de entregador de aplicativo, o que aumenta sua depressão. À beira do desespero, só lhe resta uma solução: arranjar uma namorada virtual. Por aplicativo, é claro.

É com esta premissa que o roteirista, diretor e apresentador de televisão Pierfrancesco Diliberto (que se assina simplesmente Pif) constrói uma crítica mordaz e feroz contra as grandes corporações que controlam nossas vidas. Mais que a uberização do trabalho, “Tempos Super Modernos” critica a uberização da nossa própria existência, através de ótimas ideias como, por exemplo, um leilão virtual no qual os trabalhadores se oferecem a salários cada vez menores, na tentativa de obtenção da vaga. Ou tornar “hater” uma profissão, fora outras que é melhor não falar, para não dar spoiler.

A produção é modesta: não espere mega efeitos visuais típicos de filmes de ficção científica, mas as soluções são simples e eficientes. E o sarcasmo do roteiro é brilhante.

Vale o destaque para uma das falas do líder da corporação que controla o mundo (não por acaso chamada de Fuuber): “Nós sabemos em quem eles vão votar, porque conhecemos todos os medos deles. E se eles não tiverem medos, a gente providencia alguns”.

Bebendo na fonte de várias ficções distópicas “THX 1138” e “Ela”, só para citar dois exemplos), “Tempos Super Modernos” está na programação da 8 1/2 Festa do Cinema Italiano no Brasil.

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