EM DECISÃO HISTÓRICA, COMPETIDORES DE BRASÍLIA DECIDEM DIVIDIR PREMIAÇÕES.

Não vou conseguir expressar aqui, num rápido texto, o tamanho da minha felicidade pela decisão dos seis competidores do Festival de Brasília, que resolveram dividir entre si, igualitariamente, os R$ 250 mil reais da premiação total oferecida pelo evento, independente das decisões tomadas pelo júri.

Ao invés de ficar aqui falando como este gesto é belo, humano, importante, afetuoso, justo e seja lá mais o que, prefiro reproduzir, logo abaixo, um texto que publiquei em 2009.

Logo após o texto, leia também quais foram os filmes premiados pelo 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Cinema é emoção.
Recordes, números, prêmios e troféus são meros detalhes.

Por Celso Sabadin (em maio de 2009)

Começa esta semana mais uma edição do maior, melhor e mais badalado festival de Cinema do mundo: Cannes. Já tive a oportunidade de cobrir o evento, e posso garantir que se trata da realização do sonho de qualquer cinéfilo. As sessões começam pontualmente às oito da manhã, e prosseguem até o início da noite. Fora as entrevistas, encontros, troca de informações, exposições, mostras especiais, enfim, tudo o que se possa imaginar sobre o tema Cinema.

Me chamou a atenção, porém, a manchete de um grande jornal de São Paulo: “Quem vai ganhar a Palma?”. Engraçado. Quem vai ganhar ou deixar de ganhar a Palma de Ouro é, no fundo, o que menos importa num evento tão plural como o Festival de Cannes.

Sou totalmente contrário à histeria coletiva que tem se instalado na mídia, durante cada Festival de Cinema, no sentido de tornar a competição por um troféu mais importante que o próprio filme. E até que o próprio Cinema em si.

Acho que tudo começou com o Oscar. Já repararam? A mídia, de uma forma geral, fica ensandecida, querendo prever quem vai ganhar, quem é o favorito, quem é a grade zebra, quem vai perder, como se toda a beleza do Cinema se resumisse a um grande paredão de Big Brother. É o primeiro Oscar? O segundo? Quantas indicações? Ah. Se ganhou o Globo de Ouro vai ganhar o Oscar…. O Brasil vai ganhar? A China vai ganhar? O Azerbaijão vai perder? Quanta bobagem! Principalmente porque todo mundo que atua neste mercado está cansado de saber que não existe nenhuma relação plausível entre a qualidade cinematográfica e o Oscar. E que o Prêmio nada mais é que um imenso jogo de cartas marcadas armado para levar a indústria de Hollywood pelos caminhos que os executivos desejam que ela vá. Nada além disso.

Transformar a beleza do Cinema num jogo de perde-e-ganha, numa disputa de troféus, é pensar muito pequeno. Este tipo de resultado, de premiação, faz muito bem para o Esporte, que vive de números, de recordes, de placares, de estatísticas. Cinema, não. O grande prazer do Cinema pode estar no detalhe de uma cena, num quase imperceptível acorde musical, numa lágrima, numa gargalhada inesperada, numa sutileza. Por mais que queiram provar o contrário.

Um bom filme não precisa ser campeão de nada, vencedor de nada, não precisa bater recorde nenhum. Cinema é inquantificável. Por mais que ainda queiram provar o contrário, Cinema é Arte. Uma arte magnífica que perde um pouco de seu brilho cada vez que alguém tenta reduzi-la a um “quadro de medalhas”. Cada vez que alguém mede o talento de um artista pelas estátuas que ganhou ou deixou de ganhar.

E os Festivais de Cinema são eventos maravilhosos que permitem o contato entre os cineastas, o debate com o público, a exibição do que há de mais atual no setor, a surpresa, o inusitado, o inédito, a análise de novas tendências. Transformar tudo isso num “Quem vai ganhar” é muito, muito pequeno.

Que viva Cannes, quem vivam os Festivais, independente de quem leve ou não os troféus para casa.

47º FESTIVAL DE BRASÍLIA – RESULTADO OFICIAL

MOSTRA COMPETITIVA DE FILMES DE LONGA-METRAGEM
Melhor filme (R$ 250.000,00) – Branco sai. Preto fica, de Adirley Queirós
Melhor filme pelo júri popular (R$ 50.000,00) – Sem pena, de Eugenio Puppo
Melhor direção (R$ 30.000,00) – Marcelo Pedroso, por Brasil S/A
Melhor ator (R$ 15.000,00) – Marquim do Tropa, por Branco sai. Preto fica
Melhor atriz (R$ 15.000,00) – Dandara de Morais, por Ventos de Agosto
Melhor ator coadjuvante (R$ 10.000,00) – Renato Novais de Oliveira, por Ela volta na quinta
Melhor atriz coadjuvante (R$ 10.000,00) – Élida Silpe, por Ela volta na quinta
Melhor roteiro (R$ 15.000,00) – Marcelo Pedroso, por Brasil S/A
Melhor fotografia (R$ 15.000,00) – Gabriel Mascaro, por Ventos de Agosto
Melhor direção de arte (R$ 15.000,00) – Denise Vieira, por Branco sai. Preto fica
Melhor trilha sonora (R$ 15.000,00) – Mateus Alves, por Brasil S/A
Melhor som (R$ 15.000,00) – Pablo Lamar, por Brasil S/A
Melhor montagem (R$ 15.000,00) – Daniel Bandeira, por Brasil S/A

MOSTRA COMPETITIVA DE FILMES DE CURTA-METRAGEM

Melhor filme (R$ 35.000,00) – Sem coração, de Nara Normande e Tião
Melhor filme pelo júri popular (R$ 25.000,00) – Crônicas de uma cidade inventada, de Luísa Caetano
Melhor direção (R$ 15.000,00) – Nara Normande e Tião, por Sem coração
Melhor ator (R$ 10.000,00) – Zé Dias, por Geru
Melhor atriz (R$ 10.000,00) – Maeve Jinkings, por Estátua!
Melhor roteiro (R$ 10.000,00) – Gabriela Amaral Almeida, por Estátua!
Melhor fotografia (R$ 10.000,00) – Beto Martins, por Loja de répteis
Melhor direção de arte (R$ 10.000,00) – Juliano Dornelles, por Loja de répteis
Melhor trilha sonora (R$ 10.000,00) – Piero Bianchi, Vinícius Nunes e Mateus Alves , por Loja de répteis
Melhor som (R$ 10.000,00) – Fábio Baldo, por Geru
Melhor montagem (R$ 10.000,00) – Nara Normande e Tião, por Sem coração

TROFÉU CÂMARA LEGISLATIVA DO DF – MOSTRA BRASÍLIA

Melhor longa-metragem – Branco Sai. Preto Fica, de Adirley Queirós
Melhor curta-metragem – Crônicas de uma cidade inventada, de Luísa Caetano
Melhor direção – André Luiz Oliveira, por Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos
Melhor ator – Marquim do Tropa, por Branco Sai. Preto Fica
Melhor atriz – Klarah Lobato, por Querido Capricórnio
Melhor roteiro – Fáuston da Silva, por Ácido Acético
Melhor fotografia – Dani Azul, por Meio Fio
Melhor montagem – Guille Martins, por Branco Sai. Preto Fica
Melhor direção de arte – Luiz Fernando Skopein, por À Mão Armada
Melhor edição de som – Guille Martins e Camila Machado, por Branco Sai. Preto Fica
Melhor captação de som direto – Francisco Craesmeyer, por Branco Sai. Preto Fica
Melhor trilha sonora – Renato Matos, por Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos
Melhor longa-metragem pelo júri popular – Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos, de André Luiz Oliveira
Melhor curta-metragem pelo júri popular – Ácido Acético, de Fáuston da Silva