“ENNIO, O MAESTRO”: MONUMENTAL.

Por Celso Sabadin.

“Ennio, o Maestro” é um documentário com duas horas e meia de projeção que acaba com gosto de “quero mais”. Afinal, é impossível mostrar um pouco da vastíssima obra de Ennio Morricone em um filme de míseros e rápidos 150 minutos.

O portal especializado em cinema e TV, Imdb, registra impressionantes 528 créditos para Morricone – entre curtas, longas e produtos para televisão – em 60 anos de carreira. Mas há todo um trabalho importante no setor de discos – que o portal não cobre – realizado pelo maestro, antes mesmo dele se iniciar no cinema: Morricone foi o responsável por revolucionar os arranjos de inúmeras canções populares italianas que ganharam o mundo, nos anos 1950 e 60. E praticamente sem crédito, posto que a função de arranjador não era suficientemente divulgada, naquela época. Talvez não seja até hoje.

Cinema, mesmo, só a partir do início dos anos 60, quando passou a musicar westerns-spaghetti com o pseudônimo de Don Savio, nome de uma amiga de sua esposa de toda a vida, Maria. E por que pseudônimo? Vergonha. Morricone explica no documentário que – para músicos formados em conservatórios sérios e formais, como ele – compor trilhas musicais para filmes era visto como degradante. E não esconde os sentimentos de culpa e exclusão que o perseguiram por muitos anos.

Engana-se quem pensa que tamanho preconceito tenha desaparecido rapidamente, mas para saber de toda a história, o melhor a fazer é ver o filme. Ver e ouvir. A partir de uma narrativa cronológica e clássica, o diretor Giuseppe Tornattore (o mesmo de “Cinema Paradiso”, musicado por Morricone) mostra-se hábil na difícil tarefa de tentar condensar uma carreira tão extensa, sem deixar de lado a informação e – principalmente – a emoção.

Consegue abordar um pouco de tudo sobre Morricone. Desde a infância, a adolescência (quando queria ser advogado, mas felizmente seu pai não deixou), a febre jovem da canção popular italiana da época, seu incrível processo criativo, histórias deliciosas, suas idiossincrasias (que gênio não as tem?), sua amizade com Sergio Leone, uma palhaçada chamada Oscar, e muito mais.

Quem não chorar no final é mulher do padre.

Como dizia meu querido crítico baiano João Sampaio, há filmes de 90 minutos com “sensação térmica” de quatro horas. “Ennio, o Maestro” é um filme de 2h30 com sensação térmica de curta-metragem.

Bravo Tornattore! Bravíssimo Morricone!

“Ennio, o Maestro” faz parte da 8 ½ Festa do Cinema Italiano no Brasil. A programação completa está em https://br.festadocinemaitaliano.com