ENTRE ERROS E ACERTOS, GRAMADO DESTA VEZ ACERTOU MAIS.

Não nos deixemos iludir pelas nulidades: entre erros e acertos, este 37o. Festival de Cinema de Gramado mais acertou que errou. Se errou ao afastar o público com ingressos a preços inviáveis e se errou ao incentivar (novamente) o desfile de falsas personalidades pelo tapete vermelho (teve até ex-Big Brother pegando carona nesta festa), o evento acertou naquilo que lhe é (ou que lhe deveria ser) o mais importante: a seleção dos filmes.

Quem optou por entrar no chamado Palácio dos Festivais para ver os filmes (boa parte dos convidados ainda prefere ficar somente no saguão, fazendo uma social) foi amplamente recompensado. Foram exibidas obras de grande qualidade, como o sensível uruguaio “Gigante”, o emotivo argentino “Chuva”, apenas para citar dois exemplos latinos. O Brasil marcou presença com o forte documentário-reportagem-denúncia “Corumbiara”, e pela equilibrada mistura de romance e política no envolvente “Em Teu Nome” (foto). Louve-se também a inventividade de “Corpos Celestes”.

E os curtas, se não conseguem mais repetir a ótima safra dos anos 80, pelo menos não fizeram feio, e mostraram toda a diversidade da atual produção nacional, com estilos tão diferentes quanto a comédia rasgada e o experimentalismo hermético.

Assim, passa a não ter tanta importância quem ganhe ou deixe de ganhar os Kikitos, na premiação deste sábado à noite. O importante mesmo foi ter visto, comentado, discutido e sentido boas produções artísticas. Esta cultura ansiosa de “adivinhar os premiados”, de endeusar os vencedores e esquecer os que não venceram (pois, na verdade, ninguém “perde”), parece mais adequada ao mundo dos Esportes, onde números, recordes e pontuações são mais valorizados. No universo do Cinema, da Cultura, a entrega de trofeus deve servir mais como um grande congraçamento, como a coroação de uma festa que durou toda a semana.

Para o próximo ano, espera-se que a curadoria de Gramado continue mantendo a qualidade, e siga trazendo boas e inéditas produções brasileiras, além de filmes latinos valorizados em festivais internacionais. Que a organização crie mecanismos para manter os filmes para mais próximos do público em geral como, por exemplo, tornar as sessões matinais gratuitas. Que os homenageados sejam apenas personalidades que efetivamente tenham contribuído para os cinemas brasileiro e latino-americano.

E que – por favor – algum bondoso patrocinador banque a troca das velhas, surradas, desgastadas e totalmente anti-anatômicas poltronas do Palácio do Festival. As costas deste, digamos, “experiente” jornalista agradecerão muito…