EVALDO MOCARZEL DÁ UMA GUINADA EM SUA CARREIRA.

Esqueça tudo o que você já viu de Evaldo Mocarzel. O novo filme do diretor – um dos documentaristas mais prolíferos do Brasil, com nove longas em oito anos – marca uma guinada na carreira dele, um “divisor de águas”, conforme suas próprias palavras. Exibido ontem à noite na Mostra Competitiva do 42º. Festival de Cinema de Brasília, “Quebradeiras” abandona o estilo nervoso de câmera na mão, vai na contramão dos documentários tradicionais, e radicaliza no áudio: abre mão de entrevistas e depoimentos, elimina a palavra falada, e abre espaço para uma ótima trilha sonora assinada por Thiago Cury e Marcus Siqueira.

O resultado é hipnótico. Imagens belíssimas e cânticos de domínio público desfilam pela tela propondo uma viagem prazerosamente mágica. Uma viagem de primeira classe. Cabe ao espectador embarcar ou não. Como disse o próprio cineasta antes da sessão, para curtir o filme não basta apenas desligar os celulares e pagers. “É preciso se desligar da urgência da vida urbana”. De fato. É preciso deixar a ansiedade do lado de fora do cinema.

Com um brilhante fotografia de Gustavo Hadba, “Quebradeiras” focaliza as tradições seculares, as estratégias de sobrevivência e a rica cultura das quebradeiras de coco de babaçu da região chamada de “Bico do Papagaio”, encontro dos estados do Maranhão, Tocantins e Pará.

“Sem palavras faladas, mas apenas com palavras cantadas”, no dizer de Evaldo, o filme registra sem pressa o cotidiano destas mulheres que sobrevivem do babaçu. Lentamente entramos num mundo sem relógio, numa outra dimensão de tempo e espaço que – por isso mesmo – propõe uma outra dimensão fílmica marcada pelo cadenciar natural do tempo passando devagar. Os enquadramentos são cuidadosamente estudados, minuciosamente iluminados – nem que seja pela luz natural – e calmamente registrados em câmera fixa, sem correria, sem trancos nem soluços.

Para a felicidade de quem prefere o cinema clássico, em “Quebradeiras” Evaldo comprou um tripé. E realizou seu melhor filme até o momento.