GRAMADO 2010: “LA VIEJA DE ATRAS” E A SIMPLICIDADE EMOTIVA DO CINEMA ARGENTINO.

Novamente o cinema argentino encanta fazendo o que sabe fazer de melhor: filmes simples e emotivos sobre relações humanas.
O Festival de Gramado já havia acertado com a exibição, sábado, do ótimo “Dois Irmãos”, de Daniel Burman (o mesmo de “O Abraço Partido”), ainda que fora da mostra competitiva. E ontem (08) foi a vez dos nuestros hermanos conquistarem seu espaço também dentro da competição com o sensível “La Vieja de Atras”. Na verdade trata-se de uma coprodução Argentina/Brasil, onde nosso país entrou de forma minoritária através da atuante produtora gaúcha Panda Filmes.

O tema novamente enfoca aspectos da solidão e da incomunicabilidade. No mesmo andar de um prédio, moram Rosa (Adriana Aizenberg, de “O Abraço Partido”) e Marcelo (Martín Piroyansky, de “XXY”.). Ela, uma velha senhora solitária. Ele, um jovem estudante de medicina vindo do interior. Ambos extremamente sozinhos. Fora esta solidão e os poucos metros de corredor que separam seus apartamentos, parece que não existe pontos em comum entre eles. Rosa e Marcelo são capazes de dividir o mesmo minúsculo elevador quase todos os dias, sem trocar sequer uma palavra. Até o dia em que o elevador para com os dois dentro, um defeito mecânico que ao mesmo tempo quebra o mecanismo da máquina e o sepulcral silêncio dos protagonistas.

Diante do inusitado, acontece o imprevisível convite: Rosa chama Marcelo para morar com ela. Casa, comida e roupa lavada em troca de um pouco de companhia.

O roteirista e diretor Pablo Meza (de “Buenos Aires 100 Quilômetros”) consegue filmar a solidão, o abandono e a incomunicabilidade em todo o seu peso e dor. São planos longos e silenciosos, tristemente fotografados em cores esmaecidas. Poucos diálogos, muitos olhares, música quase nenhuma e emoções gritantes filmadas com uma não mesmo gritante simplicidade. O menos é mais.

Pelo caminho, pequenos toques simbólicos que sublinham a poesia do roteiro. Como o amargo operador de máquinas copiadoras que diz que “aqui é muito fácil que os originais sejam perdidos no meio das cópias”, ou um braço engessado que “sente falta” do peso do curativo, após a retirada do gesso.
“La Vieja de Atras” é um filme para ser visto com o coração. Guarde este nome. A distribuição no Brasil deverá acontecer em 2011.