GRAMADO 2011 – ARGENTINO “MEDIANERAS” TRATA A SOLIDÃO COM BOM HUMOR.

Agora é oficial: estou morrendo de inveja do cinema argentino. Uma inveja que vinha se instalando há anos na minha alma, lentamente, a cada novo e genial filme produzido pelos hermanos. Hoje, em pleno Festival de Cinema de Gramado, foi possível conferir mais um grande momento do cinema feito no país vizinho: “Medianeras”. Urbano, jovem, inspirado, atual, divertido, inteligente, charmoso… que mais? Filmaço!

Com muito estilo, “Medianeras” foca toda a sua narrativa sobre duas solitárias almas portenhas: Martin (Javier Drolas), um escritor travado que detesta sair de seu pequeno apartamento, e Mariana (a bela espanhola Pilar López de Ayala, de “Lope”), recém-traumatizada pelo término de um relacionamento. Ambos moram na povoada e metropolitana Buenos Aires, mas sofrem de um dos maiores males do século: o isolamento. E sua consequente solidão. Como diz Martin, “Há algo mais desolador no século 21 que não ter nenhum e-mail na caixa de entrada?”.

Principalmente aqui em terras gaúchas, é possível perceber em “Medianeras” um certo toque de Jorge Furtado. Principalmente pela narração espirituosa e do bom texto que pontua toda a ação com saudáveis doses de sarcasmo e observações pertinentes. Como, por exemplo,”O que se pode esperar de uma cidade que dá as costas para o seu rio?”, numa ácida crítica à capital argentina. Mas as comparações param por aí. O filme tem personalidade forte e própria, e acerta ao transformar o mau humor e a empáfia argentinos (nestes pontos eles se parecem com os franceses) em matéria prima para a sua própria auto-ironia.

O filme é o desdobramento do curta homônimo realizado em 2005 pelo menos diretor (Gustavo Taretto, agora aqui estreando na direção de longas), com o mesmo ator principal, e muito premiado em festivais internacionais. Fazer do curta um laboratório para o longa funcionou: este novo “Medianeras”ganhou o Prêmio de Público da Mostra Panorama do Festival de Berlim.

Para aplacar a minha inveja com os argentinos, poderia se argumentar que se trata de uma coprodução com a Espanha. Nãoadianta: os espanhoi acabam de ganhar por 5 a 1 dos australianos, no futebol sub-20. A inveja continua. E piorará ainda mais quando estrear no Brasil (a data ainda não foi definia) mais um ótimo trabalho argentino: “Un Cuento Chino”, com Ricardo Darín. Mas disso eu falo outro dia…

Celso Sabadin viajou a Gramado a convite da organização do Festival.