GRAMADO 2011: “PONTO FINAL” MISTURA LINGUAGENS DE CINEMA E TEATRO.

Ponto Final

Participante da Mostra Competitiva deste 39o. Festival de Cinema de Gramado, o filme carioca “Ponto Final”, dirigido e produzido por Márcio Taranto, foi alvo de duras críticas por parte da imprensa, logo após sua exibição, na noite de ontem (06). Sim, trata-se de um trabalho difícil, muitas vezes pesado, que opera muito mais no registro teatral que no cinematográfico. Mas vale a pena ser analisado com mais vagar e atenção.

Através de uma narrativa fragmentada, não linear, o diretor aos poucos apresenta uma trama que une – e separa – um grupo de personagens que flertam com a depressão. Um casal de classe alta, em crise, vê seu casamento desabar por completo após a tragédia ocorrida com sua jovem filha. E uma mulher misteriosa (prostituta? Ninfomaníaca?) tenta se recuperar de uma tentativa de suicídio liberando sua sexualidade em longos passeios de ônibus. Ônibus, aliás, que permeará toda a trama, como uma espécie de metáfora social. Dentro dele, um motorista com ares de filósofo de botequim (“Vocês sabem o peso que é ser a mesma pessoa durante a vida inteira?”, ele diz) e um cobrador eternamente sonolento cujo mote de vida é: “Fazer o quê?”.

O filme mistura cinema com teatro. Escancara a cenografia de algumas ambientações, ao mesmo tempo em que busca o realismo em outras cenas. Não tem pruridos em fazer com que seus atores conversem com a câmera e tampouco se importa se os diálogos são improváveis. Existe ali uma fortíssima dor latente que precisa ser colocada para fora, seja pelas ferramentas do cinema, do teatro ou mesmo da poesia. Uma dor de perda, de vazio profundo, que faz com que um de seus protagonistas sequer deseje morrer: como a luz, como o dinheiro, ele prefere simplesmente “acabar”, já que a morte seria uma solução fácil demais.
Talvez a dose tenha sido um pouco pesada para o segundo longa metragem da noite, exibido num Festival que, a despeito de ser um dos mais tradicionais e importantes do país, não consegue zelar pelo conforto de quem se dispõe a ver todos os filmes: as antigas poltronas são insuportáveis para maiores de 1,75 metro, embora os lounges para divulgação dos produtos do patrocinadores sejam sempre caprichados.

Reunindo um bom elenco (Roberto Bomtempo, Hermila Guedes, Othon Bastos, Sílvio Guindane), “Ponto Final” merece um segundo olhar. Há ali qualidades a serem descobertas.

Celso Sabadin viajou a Gramado a convite da organização do Festival.