“IL BUCO”, EM BUSCA DOS VAZIOS.

Por Celso Sabadin.

A tradução de “Il Buco” seria “O Buraco”.  Lembra até o tradicional prato milanês Ossobuco, feito no buraco do osso de vitela. Mas, numa visão mais ampla – e, claro, mais poética – também poderia ser o vazio. Melhor então lançar o filme com seu título original.

Coproduzido por Itália, França e Alemanha, o filme reproduz aspectos de uma expedição que explorou, nos anos 1960, o que era até então a caverna mais profunda e mais desconhecida da Itália: o chamado Abismo Bifurto, na Calábria, com 700 metros de profundidade.

Com certeza esta breve sinopse provoca, em nossas mentes cinematograficamente colonizadas, a ideia de um filme de ação e aventura, com direito a suspense, desabamentos, e exploradores despencando pelo escuro assustador.

Pois “Il Buco” é exatamente o oposto disso. O longa propõe um mergulho profundo e contemplativo no cotidiano daquela antiga Calábria ainda bucólica, onde o tempo passa devagar entre velhos pastores de cabras. Vindo do outro lado do país, do vibrante e desenvolvido norte, o grupo de jovens espeleólogos junta-se ao universo distante do sul… e tampouco provoca um conflito cultural, como novamente pensariam nossas mentes coloniais. Pelo contrário: “Il Buco” mostra a harmonia entre estes dois mundos nos quais, no fundo, todos buscam caminhos para o preenchimento de seus próprios vazios, do oco que inexoravelmente está presente em todas as vidas, do buraco dos nossos ossos.

Com roteiro de Giovanna Giuliani e do próprio diretor, Michelangelo Frammartino (o mesmo do premiadíssimo “As Quatro Voltas”), “Il Buco” propõe uma experiência sensorial imersiva no tempo e no silêncio, um contraponto à ansiedade incontida da modernidade, e que bebe na fonte dos primeiros neorrealistas do próprio cinema italiano pós Segunda Guerra.

Segundo depoimento do diretor, “nos mesmos meses [de exploração da caverna], o monumental arranha-céu Pirelli; um vertiginoso exemplo de arquitetura, foi concluído. O prédio foi salpicado sobre as notícias, recebendo ampla cobertura da mídia e rapidamente se tornou um símbolo chamativo da Itália tendo alcançado o objetivo vertical mais alto. No entanto, a descoberta dos espeleólogos não foi divulgada e permaneceu tão obscura quanto o submundo escuro em que foi concluído”.

“Il Buco” estreia nesta quinta, 11/08, em Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife.