NEM ENCHENTES, NEM SARNEY PARAM O FESTIVAL DO MARANHÃO.

Mesmo com todas as dificuldades financeiras, políticas (troca de governador) e até físicas (enchentes) pelas quais vem passando o estado do Maranhão, novamente a arte e a cultura se mostram imbatíveis: está em pleno andamento – contra tudo e contra muitos – mais um Festival Guarnicê de Cinema. Trata-se da 32a. edição, o que coloca o evento entre os cinco mais tradicionais festivais de cinema do país.

Ontem (18), abrindo a mostra competitiva de curtas em 35 mm, foram exibidos trabalhos da Bahia, Rio, São Paulo, e Distrito Federal.

Abrindo o bloco, o ótimo “Blackout” (foto), de Daniel Rezende, foi exibido, muito aplauidido, mas está fora da competição. Motivo: a cópia em 35 mm não chegou a tempo, e a exibição foi feita em DVD, o que desqualifica o competidor. Até o final do evento, talvez ainda haja tempo de uma nova projeção, desta vez na bitola correta.

Mais árido e também muito competente, “Cães”, de Adler Paz e Moacyr Gramacho, representou a Bahia através da história de uma perturbadora relação pai/filho filmada na crua secura do sertão.

Quarto filme da noite, o representante carioca, “O Saci”, de Humberto Avellar, faz parte do projeto “Juro que Vi”, que retrata diversas lendas do folclore brasileiro através de desenhos animados. Existe inclusive uma movimentação entre cineastas e jornalistas para que estes curtas sejam transformados num longa em capítulos. A RioFilme, atualmente em processo de transição de diretoria, promete estudar o assunto.

Já o curta “A Mais Forte”, do paulista Paulo Miranda, foi prejudicado por problemas da projeção, que perdeu o foco do filme em vários momentos. Chegou-se a pensar até que seria um exercício de linguagem. De qualquer maneira, a plateia não demonstrou muito interesse pela trama, que coloca em confronto uma atriz e uma dona de casa.

Encerrando a sessão, “Ana Beatriz”, de Clarissa Cardoso, é uma simpática história de amor entre duas pessoas feitas uma para a outra… mas que ainda não se conhecem. O recurso narrativo utilizado pelo roteiro consiste em verbalizar o cotidiano de um rapaz, mas mostrar as imagens seu contraponto feminino. O público curtiu e aplaudiu.

Enquanto uma sala do Festival exibia os curtas, simultaneamente um outro espaço mostrava o longa “O Rebeliado”, de Bertrand Lira, da Paraíba, sobre um pastor evangélico disposto a “curar” e “converter” homossexuais. Como no Guarnicê os longas não fazem parte da mostra competitiva, a organização deste ano optou por exibi-los simultaneamente aos curtas, o que impossibilitou o público, porém, de acompanhar tanto os curtas como os longas. Mas a direção do evento já se comprometeu a sanar o problema para o próximo ano.

Celso Sabadin viajou a convite dos organizadores do Guarnicê.