NO FESTIVAL DE BRASÍLIA, LONGAS MINEIROS ATÉ QUE TENTAM.

A curadoria deste 43º. Festival de Brasília tem sido ousada. Optou por privilegiar filmes de jovens diretores, com tocada mais experimentalista. Mais ou menos como acontece também com o festival de Tiradentes, em Minas Gerais. Ao descartar o convencional, Brasília se mantém fiel às suas propostas e às suas raízes fincadas há mais de quatro décadas por Paulo Emílio Salles Gomes, um dos fundadores do evento, profissional sempre inquieto e sintonizado com as novas tendências.

Para o público em geral, porém, a opção muitas vezes é estafante, já que os filmes em competição passam longe do mero entretenimento, buscando a inquietação e a perturbação. Como toda vanguarda, os filmes deste Festival também estão sujeitos a erros gigantescos, risco inerente a quem ousa.

Na noite da última sexta-feira, por exemplo, o diretor mineiro Tiago Mata Machado (veja na foto de Aline Arruda)subiu ao palco do Festival para apresentar seu filme “Os Residentes”. Com uma certa dose de otimismo exagerado, disse que o longa foi feito “para oxigenar” o cinema brasileiro. Logo após a exibição, mal recebida pela grande maioria dos presentes, o assunto imediatamente virou piada. O estilo passadista do filme, que lembra a vanguarda experimentalista dos longínquos anos 60, pouco ou nada traz de novidade estética e/ou narrativa, e dificilmente oxigenará alguma coisa.

O longa de ontem, o também mineiro “O Céu Sobre os Ombros”, foi um pouco mais feliz. Um pouco. O diretor estreante Sérgio Borges se debruça sobre três personagens solitários, de classe média baixa, moradores de Belo Horizonte e imediações: um transexual, um torcedor fanático do Atlético Mineiro (e que também hare krishna), e o pai de um garoto deficiente mental.
Esta trinca serve de base para que a câmera de Sérgio faça longos planos introspectivos, reflexivos e não raro silenciosos que lentamente desvendarão fragmentos destes três universos. Um estilo contemplativo meio “Céu de Suely”, meio “Casa de Alice”, mas longe, bem longe da forte dramaturgia destes dois exemplos citados. É o velho problema de roteiro do cinema brasileiro.

Neste processo de fugir do que já foi feito, de tentar a ruptura pela ruptura, muitas vezes os jovens experimentalistas deixam em segundo plano (quando não, terceiro) a boa e velha tradição de se contar uma boa história, de construir personagens interessantes, de desenvolver minimamente um fio narrativo. É do que se ressente neste Festival de Brasília, salvo honrosas exceções.

No outro extremo, os dois curtas exibidos na noite deste sábado (27) pecam tanto na forma como no conteúdo. O brasiliense “Falta de Ar”, de Érico Monnerat, e o paraense “Matinta”, de Fernando Segtowick se utilizam de estética e narrativa convencionais, já usadas e reusadas pelo cinemão comercial, para contar histórias de dramaturgias igualmente frágeis.

Este repórter, incurável otimista, anseia por noites melhores até o final do Festival.

Celso Sabadin viajou a Brasília a convite da organização do evento.