O ESTREANTE (E JÁ PREMIADO) DIRETOR BRUNO SAFADI BATE PAPO CONOSCO.

O primeiro longa-metragem de Bruno Safadi, “Meu Nome é Dindi”, flerta com o experimentalismo a la Julio Bressane, ao mesmo tempo em que destila influências do Cinema Novo e – segundo o próprio diretor – até do cinema norte-americano.
Bruno conversou com o site Planeta Tela:

Por que a opção pelos longos planos-seqüência?

Bruno Safadi – Por dois motivos. “Meu nome é Dindi” tem a vontade de refletir esse conceito tão amplo e importante para a história do Homem: o Tempo. O filme é uma fábula sobre como algumas das características do nosso Tempo influem na vida de uma mulher do século 21, do centro antigo do Rio de Janeiro, a Dindi, e como ela reage a isso. Dentro da linguagem cinematográfica, o plano-sequência é uma forma de refletir e experimentar o Tempo dentro do Cinema. Um Tempo elastizado, agônico, limite. “Meu nome é Dindi” tem a ver com agonia, com limite. O cinema nasceu num plano-sequência. De alguma forma é uma aproximação ao início do cinema. E o segundo motivo foi um pensamento de ordem econômica, que sugere uma reflexão sobre como fazer um filme realmente de Baixo Orçamento. Não fosse uma idéia para isso e a escolha do plano-sequência, não teria filmado um filme todo em apenas uma semana.

Imagino que em função disso deva ter exisitido um grande período de ensaios. Quanto tempo você levou ensaiando e quanto tempo rodando o filme? Houve espaço para improvisações?

Bruno Safadi – Houve um mês de ensaios diários com a protagonista, a Djin Sganzerla. Os outros atores ensaiaram em média 3 vezes. E na véspera do dia das filmagens, ensaiávamos a movimentação conforme o espaço. Decupávamos a movimentação dos atores somado a movimentação da câmera. Num filme de como esse, ator e câmera são inseparáveis.

As cenas na praia me fazem lembrar “Os Cafajetes”, da mesma forma que a câmera “rodante” remetem ao Cinema Novo. Gostaria que vc. citasse um pouco mais as referências que o filme homenageia além, é claro, de suas próprias referências e influências cinematográficas, por ter trabalhado com Bressane.

Bruno Safadi – Quando se faz um primeiro filme de longa-metragem, você tem muitas referências que te formam e que você quer colocar no filme. Influências já deglutidas e expelidas sob o meu jeito de expressar a minha arte. Para citar nomes de diretores e filmes, as influências conscientes foram o Godard de “Viver a Vida”, o Kubrick de “The Killer’s Kiss”, os primeiros filmes do Roman Polansky, “Dois homens e uma Armário”, “O Gordo e o Magro”, “Repulsa ao Sexo”. Uma afetividade ao cinema americano dos anos 40 e 50 que homenageia o “A um passo da Eternidade”, do Fred Zinnemann. E de cinema brasileiro, toda a beleza de um cinema de invenção de Bressane, Sganzerla, do “Aitaré da Praia” do Gentil Ruiz, de “Limite” do Mário Peixoto e também do cinema do Rui Guerra, para mim um dos três grande diretores do cinema-novo e talvez o maior estilista da sua geração ao lado de Glauber.

Gostaria de mais informações sobre seu próximo filme, Belair.

Bruno Safadi – Belair é um filme-documentário que estou dirigindo ao lado da Noa Bressane, com forte colaboração do Rodrigo Lima, montador do filme, e da Sinai Sganzerla, assistente de direção.
“Belair” é um filme importante para os que se interessam sobre cinema brasileiro. Um filme para conhecer um momento máximo de expressão artística de dois dos nossos maiores cineastas, Julio Bressane e Rogério Sganzerla. Eles fizeram 7 longas-metragens em apenas 3 meses e os fimes não foram exibidos na sua época. É importante ressaltar que a Belair tinha como um dos seus produtores o Severiano Ribeiro, maior exibiudor nacional. Outro objetivo de “Belair” é entender por que esse momento máximo foi silenciado por um momento político do nosso páis e principalmente da nossa classe cinematográfica? Vale lembrar que na mesma época estava sendo fundada a Embrafilme, com um discurso de se formar um indústria. Indústria essa que não conseguiu sequer aceitar a existência desses filmes e desses cineastas de invenção. Esse discurso industrial segue até hoje, com poucas mudanças de idéias e de personagens. Deveríamos questionar por que investe-se tanto num modelo de filmes tão caros, que em 40 anos (com raríssimas exceções) não deu certo? Por que investe-se tão pouco em filmes artísticos, que desde sua fundação, na entrada da Baía de Guanabara, tem se mostrado a maior força do Cinema Brasileiro?
“Belair” fala sobre tudo isso.