“O GÊNIO DO CRIME” PRIMA PELOS DIÁLOGOS E TEXTO AFIADOS.

 Por Celso Sabadin.

O incrível Dr. Cllitterhouse (Edward G. Robinson) do título original de “O Gênio do Crime” é um conceituado médico em Nova York que se dedica a uma extensa pesquisa sobre criminalidade. Ele quer saber de que forma uma vida de crimes pode alterar os estados psíquico, emocional e até físico de um criminoso. Para isso, Clitterhouse adota a estratégia nada ortodoxa dele próprio se integrar, anonimamente, numa quadrilha de assaltantes.

Delicioso texto original do dramaturgo inglês Barré Lyndon (que anos mais tarde roteirizaria “A Guerra do Mundos”) adaptado por ninguém menos que John Wexley (também roteirista do clássico “Anjos de Cara Suja”) e John Houston, antes de se tornar diretor.

O polêmico tema das feições faciais como elemento de cognição de uma pessoa criminosa – ligado à infame teoria da Eugenia – estava em pauta naquele 1938, momento em que Hitler já aterrorizava a Europa com suas perseguições fundamentadas no infundamentável. Não seria este, porém, o foco central de “O Gênio do Crime”, que opta por assumir um bem-vindo ar de comédia de costumes misturada à crítica social, apoiado na elegante direção do ucraniano Anatole Litvak, que, coincidentemente ou não, no ano seguinte realizaria “Confissões de um Espião Nazista”.

A fotografia do italiano Tony Gaudio, principalmente na segunda metade do longa, quando há uma reviravolta de roteiro, já flerta com o estilo noir que dominaria o cinema estadunidense na década seguinte,

É admirável notar como o filme é hábil em driblar o então rígido Código Hays de censura ao cinema, que na época não permitia que personagens criminosos chegassem ao final da trama sem punição. Ainda há espaço para provocantes discussões sobre ética e comportamento, principalmente na cena em que se comparam as ações de criminosos comuns às de criminosos oficiais (mais especificamente, à promotoria pública).

Sem dar spoilers, o final em aberto é genial e evita conservadorismos fáceis.