“O REFLEXO DO LAGO”, NO RITMO DAS ÁGUAS.

Por Celso Sabadin.

Um dos maiores problemas do Brasil é sua congênita e incurável desigualdade social. Até diante de suas gigantescas obras, que contemplam, desigualmente, suas populações beneficiadas. O filme “O Reflexo do Lago” aborda uma destas obras faraônicas: a hidrelétrica de Tucuruí, atualmente a quarta maior do Brasil. Localizada no Rio Tocantins, no município de Tucuruí (Pará), a usina, por si só, é um retrato deste imenso país desigual: por um lado, enorme e imponente, ela é responsável há 40 anos pelo abastecimento de energia elétrica para o setor de fabricação de alumínio. Por outro, os moradores das ilhas do rio Caraipé, dentro do reservatório da própria usina, ainda vivem à luz de velas e geradores. É a nossa cara.

O longa faz a feliz opção de não abordar esta questão de forma panfletária ou discursiva. Pelo contrário. Inspirado no livro de fotografias “O Lago do Esquecimento” de Paula Sampaio, e no trabalho acadêmico “Poitas no banzeiro: um estudo sobre a permanência dos mais novos no Lago da Hidrelétrica de Tucuruí”, de Edilene Portilho, o roteirista e cineasta Fernando Segtowick realiza aqui um documentário poético, de íntima observação da população insulana, e apoiado sobre belas imagens em preto e branco da região.

Sem querer fazer trocadilho com o próprio título do filme – e já fazendo – é uma obra reflexiva, que segue seu rumo com o mesmo vagar inspirado e contemplativo das águas que focaliza.

“O Reflexo do Lado é um convite para que se juntem a nós, em meio aos moradores do Rio Caraipé e das árvores mortas pela hidrelétrica de Tucuruí. É um convite ao público para ver a destruição da floresta e o desaparecimento de animais, mas também, é uma chance para que possam viajar no barco do Seu Manduca e ver aquela gente que também dança, reza, sorri e vive. Essa população resiste apesar do poder dos ciclos econômicos e dos governantes que continuam a assombrá-la, em uma história que é a própria história da Amazônia”, comenta o diretor.

Nascido em Belém, Fernando Segtowick fundou a produtora Marahu Filmes – especializada em temas amazônicos – em 2015, e já dirigiu curtas e séries para a televisão exibidas no Brasil e no exterior. “O Reflexo do Lago” é seu primeiro longa. O filme teve estreia mundial na Mostra Panorama do Festival de Berlim em 2020 e foi selecionado para festivais na França, Itália, Irlanda, Estados Unidos, Kosovo e Colômbia.

Num primeiro momento, “O Reflexo do Lago” estreia exclusivamente no Cine Líbero Luxardo, na Av. Gentil Bitencourt, 650 – Nazaré, Belém, Pará.