PARA REFLETIR: MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES CONSAGRA FILMES FEITOS PARA A TELEVISÃO.

É, no mínimo, preocupante para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica brasileira: a Mostra de Cinema de Tiradentes, reconhecidamente a que mais incentiva a ousadia e a pesquisa cinematográfica de novos talentos, premiou na sua 15ª. edição (terminada no último dia 28) dois filmes cujos projetos originalmente foram pensados e criados para a televisão: “A Cidade é Uma Só?” e “HU” (foto). Nada, absolutamente nada contra a qualidade de ambos, muito pelo contrário. Mas chama a atenção o fato de tanto o Júri Jovem como o Júri da Crítica terem escolhido filmes que, num primeiro momento, foram desenvolvidos para o programa Doc.TV, e posteriormente terem sido reeditados para o formato de longa metragem.

O longa do Distrito Federal, “A Cidade é Uma Só?”, de Adirley Queirós, foi o escolhido pelo Júri da Crítica como Melhor Filme da Mostra. Já premiado anteriormente na Semana dos Realizadores, que aconteceu no Rio de Janeiro no ano passado, o filme foi coproduzido pela TV Brasil por meio do edital “Brasília 50 anos”, e faz uma bem humorada e crítica reflexão sobre a cidade satélite de Ceilândia.

Já o Júri Jovem elegeu como Melhor Filme da Mostra o documentário carioca “HU”, de Pedro Urano e Joana Traub Cseko. O documentário é resultado do Doc.TV – Rio de Janeiro, e mostra as incoerências do Hospital Universitário da Universidade Federal Fluminense, um caríssimo gigante branco que consumiu verbas federais durante décadas.

Como já é tradição, a Mostra Tiradentes destacou-se como o grande fórum para debates, reflexões e manifestações. Durante seus nove dias de programação, “mais de 35 mil pessoas passaram por Tiradentes e 1.500 empregos diretos e indiretos foram gerados, fortalecendo a economia e a vocação turística da cidade”, segundo dados da assessoria de imprensa do vento.

A relação entre crítica e realização também foi um dos principais, e mais controversos, temas das conversas na segunda metade de Tiradentes, a partir da realização das duas mesas do Panorama Crítico da Crítica. A discussão foi além daquelas pessoas presentes na Mostra e repercutiu pelas redes sociais, a partir da transmissão ao vivo dos dois eventos pela Internet.

A Mostra de Cinema de Tiradentes celebrou sua trajetória de 15 anos com a apresentação de 116 filmes – sendo 31 longas, um média e 84 curtas – e a realização de 19 encontros com a crítica, o diretor e o público, além de sete debates temáticos. As 12 oficinas culturais oferecidas gratuitamente certificaram 310 alunos durante o período.

O evento, em si, foi impecável. Já os rumos do cinema brasileiro, estes sim merecem uma discussão mais séria e acalorada.

Celso Sabadin viajou a convite da origanização da Mostra.