PORQUE O OSCAR NÃO MERECE “O PALHAÇO”.

‘Qual é o seu problema com o Oscar?”, muita gente me pergunta. E eu sempre respondo que não tenho problema nenhum com ele. É que eu gosto muito de Cinema pra curtir o prêmio da Academia, só isso. E salvo raras e honrosas exceções o Oscar é a consagração exatamente de uma maneira de fazer cinema que, pessoalmente, me interessa muito pouco. O Oscar é a louvação do óbvio, das fórmulas matemáticas de se produzir filmes em escala industrial, da formulazinha Syd Field, da primeira virada de roteiro aos 15 minutos, dos arcos dramáticos pra lá de manjados, da redenção final e gloriosa do personagem, da música chorosa no lugar estratégico, da falta de sutileza, da redundância em todos os níveis estéticos, do nada em aberto, do final do filme em grua. Há quem goste. Sou democrático; palmas para eles. Mas não sou obrigado a compactuar.

Tenho contra, sim, muitas coisas em relação a este tipo de pensamento colonizado que acredita que o cinema brasileiro só será alguma coisa importante no dia que ganhar um Oscar. Pelamordedeus! Por que um cinema como o nosso precisaria de um prêmio conservador que consagra a mesmice e a falta de criatividade? Por que precisamos ser reconhecidos na festa dos outros, e ainda por cima uma festa que nada tem a ver com o nosso DNA artístico, cinematográfico ou criativo? Que Hollywood seja feliz com a festa deles. Nada contra, às vezes até assisto, dou risada, mas não vejo vantagem nenhuma no cinema brasileiro se meter lá naqueles fraques desengonçados e naquela falsa plasticidade de piadas ensaiadas.

Definitivamente, não é a nossa praia. O Oscar é a praia do marketing, da promoção e da indústria, e não do cinema. Foi uma festa criada para dar um certo ar de seriedade à indústria cinematográfica dos EUA dos anos 20-, depois que várias orgias promovidas por artistas e produtores escandalizaram a sociedade da época, culminando com a morte de uma dançarina por overdose e com o fim da carreira do comediante Fatty Arbuckle, acusado do crime. Foi por isso que criaram a tal Academia. E nós precisamos vestir fraque e ficar balançando o rabinho na porta desta festa, pra ver se algum porteiro bonzinho deixa a gente entrar e ganhar uma estatuetazinha de um cara pelado com uma espada na frente? Acho que não.

Prefiro o cinema que busca, que procura, que inova, que propõe, que perturba. Prefiro um cinema onde a vontade de criar seja maior que o medo de não dar bilheteria. E esse cinema não está numa festinha brega em Los Angeles. Por essas e por outras, muitas outras, que repito aqui o mesmo que já disse no dia em que “O Palhaço” foi o nosso indicado a concorrer ao prêmio de filme estrangeiro: não é o caso de adivinhar se “O Palhaço” merece ou não o Oscar. Mas com certeza o Oscar não merece “O Palhaço”.