POVOS ORIGINÁRIOS REALIZAM CURTA DURANTE FAM 2023.

O cinema indígena vive uma fase de grande crescimento no Brasil e para contribuir com esse movimento, o FAM 2023 promoveu a Oficina de audiovisual para povos originários, ministrada também por um realizador indígena Quechua, Iván Molina, da Bolívia. Cineastas indígenas aldeados e urbanos dos povos Guarani, Kaingang, Laklãnõ/Xokleng, Kaiowá, Terena, Quechua e Parintintin, vindos do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, participam da oficina e produzem em três dias em curta-metragem que vai estrear na cerimônia de encerramento do festival, dia 27, a partir das 19h.

Boa parte recebeu bolsas do Festival para a vinda e a construção de todo o processo foi coletiva, do roteiro à gravação e montagem. A oficina, no IFSC Campus Florianópolis, teve o apoio do Núcleo de Produção Audiovisual NPD – IFSC. Alguns participantes vieram diretamente de Brasília para a oficina, onde acompanharam o julgamento da tese do Marco Temporal, derrotada no Supremo Tribunal Federal.

No Brasil há uma longa experiência com cinema indígena, com projetos como Vídeo nas aldeias, de Vincent Carelli, criado em 1986, e os da Associação Cultural  dos Realizadores Indígenas (Ascuri) do Mato Grosso do Sul, do qual Molina é fundador. “Todos os povos podem fazer cinema, com uma língua própria. Sempre existiu cinema indígena, desde as pinturas rupestres. Com a tecnologia audiovisual é um olhar diferente, há uma relação mais próxima com a natureza. Nós usamos a língua audiovisual para falar de terra e território e que nós também existimos neste mundo e temos direitos”, reforçou Molina.

“Além da oralidade estamos buscando outras ferramentas para conseguir mostrar nossa cultura, e com um professor indígena é mais fácil, os pensamentos e lutas são os mesmos, são indígenas produzindo, fazendo tudo, nos dividimos em equipes, de fotografia, som, somos nós próprios sendo autores e atores dessa história”, contou Vanessa Neres, Kaingang da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, estudante de jornalismo na UFSC e coordenadora de comunicação na Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul).

A oficina reuniu cineastas iniciantes e experientes, como Ariel Kuaray Ortega, Mbyá-guarani da aldeia Tekoa Koe’ju, de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, fronteira com a Argentina, diretor de filmes premiados mundialmente como Bicicletas de Nhanderu e A transformação de Canuto, dirigido com Ernesto de Carvalho e o Coletivo Guarani de Cinema, criado em 2007. “O audiovisual surgiu como uma necessidade de contar nossa história, os guaranis estavam muito invisibilizados naquela região. A história na América é contada pelos colonizadores, agora é por nós mesmos, e com a nossa própria linguagem, cada povo pode trabalhar a ferramenta audiovisual desde a sua cultura e sua cosmologia”, disse.

Outro participante, Jucelino de Almeida Filho, Laklãnõ/Xokleng Alto Vale do Itajaí, dirigiu com Cláudia Cárdenas  Aqui onde tudo acaba, filme em 16mm, ganhador de menção honrosa no festival Kinoforum de 2023, entre outros projetos. “É uma experiência muito enriquecedora, de fazer uma troca entre os parentes, temos uma visão diferente do cinema com pessoas de outros países. Sempre trabalhei com diretores não indígenas, estamos construindo um jeito indígena de fazer cinema”.

A programação completa do FAM 2023 pode ser conferida no www.famdetodos.com.br/programacao