RELANÇAMENTO DA AUTOBIOGRAFIA DE ELIANE LAGE MARCA SEUS 95 ANOS, COMEMORADOS HOJE.

Por Celso Sabadin, 16 de julho de 2023.

O livro “Ilhas, veredas e buritis” – que traz como subtítulo “A autobiografia de Eliane Lage e a história do cinema da Vera Cruz”- traz, no mínimo, dois grandes atrativos. Para o cinéfilo, o primeiro deles é mostrar detalhes da história da Companhia Cinematográfica Vera Cruz pelo ponto de vista de quem de fato a vivenciou intensamente, em seus primeiros anos: sua estrela feminina principal, a atriz Eliane Lage.

E para quem não é necessariamente cinéfilo, o livro é um retrato apaixonado e apaixonante de uma mulher de biografia das mais incomuns, nascida em Paris, filha de pai brasileiro e mãe inglesa, que desembarcou no Brasil ainda bebê e que, desde jovem, começou a trabalhar com crianças carentes. Com direito a passagens pela Inglaterra e pela Grécia, onde amparou crianças gregas durante a guerra civil.

E tem mais: o texto da autora é fluido e envolvente, intimista sem deixar de ser informativo; documental, sem deixar de ser lírico.

“Ilhas, veredas e buritis – A autobiografia de Eliane Lage e a história do cinema da Vera Cruz” está sendo relançado pela Gryphus – com revisões, atualizações e alterações – neste 2023, no momento em que sua autora completa 95 anos de idade. A primeira estrela da Vera Cruz nasceu em 1928 exatamente num dia 16 de julho, data da publicação deste texto. Atualmente ela vive em Pirenópolis, Goiás.

Nos famosos estúdios de São Bernardo do Campo, Eliane foi a protagonista de quatro longas: “Caiçara” (1950), “Angela” (1951), “Terra é sempre Terra” (1952) e “Sinhá-Moça” (1953), sendo o primeiro dirigido por Adolfo Celi e os outros três por Tom Payne. Mais tarde, em 1958, já com a Vera Cruz de portas fechadas, atuou em “Ravina”, sob direção de Rubem Biáfora e produção da Brasil Filmes.

No livro, Eliane narra com frescor e desenvoltura que não entendia absolutamente nada de cinema quando começou sua carreira, aceitando seu primeiro papel apenas porque havia se apaixonado pelo diretor, Tom Payne (aliás, outro nome que merecia um belo livro). A – digamos – “estratégia” funcionou: Eliane e Tom casaram-se em 1951, tiveram 3 filhos e 6 netos.

O livro traz passagens curiosas e divertidas, como a que narra o encontro entre a atriz o ícone norte-americano John Wayne:

“Eu havia sido escalada para um almoço no estúdio em honra de John Wayne. Só que resolvi fugir para comprar uma vaca. Mas saí atrasada e encontrei-me no portão com a comitiva de carros que trazia o homenageado. Ele desceu do carro e veio até o Land-Rover todo enlameado. Muito alto, o cowboy curvou-se rindo, com as mãos na capota do jipe, e disse: “Não acreditei quando me disseram que você era a primeira atriz da Companhia, mas agora estou vendo que é!”. E eu, aproveitando o bom humor, pedi desculpas por não comparecer ao almoço, pois tinha que ir comprar a minha primeira vaca. E acrescentei: “Achei que só você, John Wayne, compreenderia!”

Segundo o escritor Ignácio de Loyola Brandão – contemporâneo da autora, e a quem foi entregue o prólogo do livro – “Eliane foi estrela de cinema, mãe, dona de antiquário, guia turística, tradutora simultânea e, por fim, professora e fazendeira. Quantos caminhos ela percorreu. Quando se termina a leitura deste livro, que tem atmosfera de romance, nos vemos diante de uma mulher que foi avançada e moderna em sua época, uma época que não a compreendia, não a podia alcançar. Esta é uma autobiografia que se insere dentro daquele gênero particular de life in progress”, afirma.

Há também um posfácio do ator e produtor André Lage, neto de Eliane, em que afirma que “minha Vó nunca chegou perto de satisfazer a fantasia de uma senhora fofinha. Nada disso: ela era linda, forte e cuidava de uma fazenda de gado sozinha no meio de Goiás”.

O livro ainda traz o prefácio da cineasta Helena Solberg, que ressalta “o lugar único na história do cinema brasileiro” ocupado por Eliane.

 

Serviço:

Livro: Ilhas, veredas e buritis – a autobiografia de Eliane Lage e a história do cinema da Vera Cruz

Autora: Eliane Lage

Editora: Gryphus

356 páginas, 16 x 23 cm

R$ 79,90