“RETABLO”: SENSIBILIDADE VERSUS INTOLERÂNCIA.

Por Celso Sabadin.
 
Um pequeno vilarejo incrustado no alto das montanhas do Peru é o cenário de “Retablo”, drama familiar que já acumulou mais de 40 premiações e indicações em festivais pelo mundo. Entre alegres festas populares coloridíssimas, muita música e manifestações religiosas esconde-se uma população conservadora e preconceituosa, capaz de violentas e desumanas atrocidades. É neste contexto de medo e velada hipocrisia que Noé (Amiel Cayo) ensina seu jovem filho Segundo (o estreante Junior Bejar) a sensível arte do retábulo, belo trabalho artesanal que se assemelha aos oratórios barrocos que conhecemos principalmente da cultura de Minas Gerais.
 
O isolamento bucólico do lugar, a fachada festeira de sua população e a suposta ideia de que tudo se passa num canto perdido do mundo onde nada de mais marcante poderia acontecer não são suficientes para encobrir a intolerância daquela comunidade distante. Quando a família de Noé e Segundo é abalada por uma questão milenar e humana que deveria – há séculos – não incomodar mais ninguém com o mínimo de consciência, o céu da ignorância desaba sobre as cabeças dos habitantes do vilarejo. Muda-se a geografia, mas a história permanece.
 
Rompidos os laços sociais, restam as ligações familiares para restabelecer a vida. Ou pelo menos tentar. Tudo roteirizado e dirigido com muita dignidade e sensibilidade por Alvaro Delgado Aparício, estreante em longas.
Coproduzido por Peru, Alemanha e Noruega, “Retablo” foi escolhido pelo Peru para concorrer a uma vaga ao Oscar de filme estrangeiro para 2020.