SECRETÁRIO DO AUDIOVISUAL DIZ QUE “CINEMA BRASILEIRO PRECISA DEIXAR DE SER DUNGA”.

No debate sobre novas políticas públicas para o Cinema, realizado ontem (16) aqui no Festival de Paulínia, Newton Cannito (foto), recém-empossado Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, jogou novas luzes, abriu novas perspectivas, e renovou os ares da discussão sobre a produção cinematográfica do nosso país.
Claro, objetivo, inovador, e desprovido do idioma politiquês que muitas vezes atravanca o discurso político-cultural brasileiro, Cannito foi direto: “Acho estranho muita gente dizer que é contra o mercado. O que significa isso? É o mesmo que ser contra a Lei da Gravidade. O mercado somos todos nós. Ou alguém é contra ser remunerado pelo seu filme?”.

A proposta de Cannito é que a produção brasileira deixe de bater de frente com as grandes empresas americanas na luta por um mercado que já é restrito, e que o Brasil comece a se preocupar não só em criar novos mercados, como também em ampliar o pouco que existe.

Traduzindo em números, hoje o país tem 190 milhões de habitantes, sendo que apenas 10 milhões deles freqüentam – nem que seja muito raramente – as salas de cinema. Ou seja, são 180 milhões de brasileiros que nunca, jamais, em tempo algum, pisaram num cinema. E o que é pior: nem pisarão, se tudo continuar como está. Uma primeira preocupação das novas políticas públicas seria começar a prestar atenção nesta imensa massa de pessoas cinematograficamente excluídas.

Roteirista dos filmes “Bróder” e “Quanto Vale ou é por Quilo”, Cannito defende também o desenvolvimento de novos nichos no cinema brasileiro. “Não fazemos ainda filmes de terror, comédia trash, tecnobrega, filme gospel ou de cowboy”. Comparando Cinema e Futebol, Cannito diz que nossas políticas públicas “financiam o jogo, e não o time”. Ou seja, os mecanismos de captação atuais funcionam para um filme isoladamente, e não para um projeto de produção. Como resultado, feito o filme, não há continuidade para a equipe de produção, perde-se o ritmo, e o mercado é prejudicado como um todo. Cada novo filme é um novo recomeço.

Ainda utilizando o jargão esportivo, Cannito não usa meias palavras: “O Cinema Brasileiro precisa deixar de ser Dunga. Precisa parar de só reclamar e se defender, e partir para o ataque”. E provoca: “Se o cinema americano – que é feito por americanos – consegue tanto mercado, imagina então o que nós, brasileiros, que somos muito mais criativos que eles, conseguiremos fazer se partirmos para o ataque”.

“As 12 Estrelas” abre mostra competitiva de ficção.

Após o debate quente da tarde, a noite caiu gelada em Paulínia, com ventos fortes e o ar condicionado do Theatro Municipal bombando. Na tela, “As 12 Estrelas” abriu a competição de longas de ficção. Roteirizado e dirigido por Luiz Alberto Pereira (o mesmo de “Tapete Vermelho”), o filme acompanha a trajetória de um astrólogo (Leonardo Brício) que é contratado como consultor de uma telenovela. Sua função será a de entrar em contato com 12 belas atrizes, dos 12 diferentes signos do Zodíaco, para entrevistá-las. Pelo caminho, com quase tudo dando errado, o protagonista prefere entregar seu trabalho nas mãos do Destino. Literalmente, já que Destino é o personagem vivido por Paulo Betti.

Não é um filme fácil. Pereira (mais conhecido no mercado como Gal) o classifica como “uma viagem pelo inconsciente”. Opta por uma narrativa parte onírica, parte cômica, que acaba resultando numa trama de várias e confusas idas e vindas, provocando uma sensação de estranhamento.

Porém, como “As 12 Estrelas” traz em seu elenco um forte time de atrizes convidadas, o filme se mostrou bastante eficiente em cumprir uma das funções não só deste como de boa parte dos Festivais de Cinema: a disseminação do glamour. Antes da exibição, o grande palco do Theatro Municipal ficou tomado de ponta a ponta pela equipe do longa, incluindo nomes como Paulo Betti, Cássio Scapin, Débora Duboc, Mylla Christie, Leona Cavalli, Sílvia Lourenço, Djin Sganzerla e vários outros. Para a alegria dos fotógrafos.

Cinema também é isso.

Celso Sabadin viajou a Paulínia a convite da organização do evento.