SENSÍVEL E SURPREENDENTE, CURTA “BAILÃO” SE DESTACA EM BRASÍLIA.

O curta-metragem “Bailão” (foto), do mineiro radicado em São Paulo Marcelo Caetano, foi o ponto alto da noite de quinta-feira no 42º. Festival de Cinema de Brasília. Belissimamente fotografado, sensível e surpreendente, o filme só tem um problema. Problema, aliás, que não é exatamente do filme: provavelmente boa parte da mídia vai estragar a sua principal surpresa, ao comentá-lo.
Melhor não falar muito. Basta dizer que, em seus primeiros instantes, “Bailão” evoca o também belíssimo “Chega de Saudades”, de Laís Bodanzky. Mas depois envereda por um caminho bem diferente. Em 16 rapidíssimos minutos, Marcelo Caetano, estreando no 35 mm, cria um emocionante painel sobre uma geração que foi obrigada a engolir seus sentimentos e travar suas emoções na garganta. Uma geração nascida e criada dentro de leis, morais e costumes sufocantes e que – agora – vê que é tarde demais para se libertar. Um pequeno filmaço!

O mesmo não se pode dizer do apenas correto “Água Viva”, do também mineiro Raul Maciel. Representando o Rio de Janeiro, o filme é um ensaio poético sobre uma jovem que desperta para a sexualidade. Traz um bom clima intimista, fotografia elaborada, interpretações cuidadosas, mas assim como uma boa parte dos curtas brasileiros, peca pela ausência de conclusão. Nada contra finais em aberto, mas nem sempre o recurso é satisfatório o suficiente, principalmente quando o conteúdo central não consegue a devida empatia, nem o esperado envolvimento emocional.

O longa que encerrou a noite de quinta-feira foi o equivocado “Perdão, Mister Fiel”, mistura de documentário com dramatizações dirigida pelo jornalista e documentarista radicado em Brasília Jorge Oliveira.
O filme resgata a história do operário socialista Manoel Fiel Filho, morto nos porões da ditadura militar em 1976, pela mesma equipe de torturadores que havia assassinado também Vlado Herzog, meses antes. Ainda que recheado de nobres intenções, o documentário se perde em reconstituições interpretadas com histrionismo que acabam por dispersar a atenção (e a emoção) da platéia, diluindo assim a seriedade do tema.

Vale notar que o público presente ao Cine Brasília, sempre muito atuante, não deixou de ratificar sua marca, vaiando a cada aparição, nos depoimentos do filme, as figuras de Fernando Henrique Cardoso e Jarbas Passarinho.