SER OU NÃO SER “MÃE”.

Por Celso Sabadin.

Antes de mais nada: não confundir “Mãe” com “A Mãe”, de Cristiano Burlán. O filme “Mãe”, que chegou nesta quinta-feira, 27/04 – com exclusividade em cinema no Estação Net Botafogo e na plataforma de streaming Looke – é o longa de estreia de Adriana Vasconcelos na ficção. E fala não de uma, mas de três mães.

Toda a ação dramática é concentrada no período de tempo particularmente tenso e sensível entre os dias que antecedem o Natal e se prologam até o final do ano. É este o breve momento que Sonia (Ana Cecília Costa) terá para tentar respirar, pelo menos um pouco, os rarefeitos ares de liberdade de seu indulto natalino.

Porém, ao voltar para a casa de sua mãe, Madalena (Sura Berditchevsky), Sonia está na verdade trocando o presídio físico pela opressão emocional. É no convívio familiar com a mãe, a filha Júlia (Lisa Eiras Favero) e a neta Camila (Raíssa Vasconcelos) que Sonia se tornará inadvertidamente o pivô de um dolorido círculo vicioso de mágoas e culpas repletas de fantasmas do passado e tragédias interligadas.

Com roteiro da própria diretora e de Fernando Guimarães, “Mãe” teve sua primeira exibição no Festin Lisboa, em Portugal, seguindo depois por diversos outros festivais no Brasil e no exterior. Ganhou os prêmios de Melhor Direção, para Adriana Vasconcelos, na Mostra Brasília do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e melhor atriz, para Ana Cecília Costa, no Overcome Film Festival.

 

Três perguntas para Adriana Vasconcelos

Adriana Vasconcelos - diretora - foto (1)

A diretora, roteirista, atriz e produtora Adriana Vasconcelos tem graduação em Cinema e mestrado em Arte pela Universidade de Brasília. Entre seus projetos mais autorais destacam-se, além do longa-metragem “Mãe”, os curtas “Só Sofia” (2004); “Senhoras” (2010) e “Fragmentos” (2014), obras que circularam por importantes festivais pelo Brasil e pelo exterior.

1. O argumento do filme “Mãe” é de alguma forma autobiográfico?

Adriana – Não, não é autobiográfico, mas nasceu do meu questionamento interno se queria ser mãe ou não. Eu estava em uma idade na qual a pressão pra ser mãe era muito grande. Ou seria nessa idade ou não seria mais. E a maternidade nunca foi uma prioridade na minha vida. Não me preocupava com isso.

Partindo da minha observação de que nem toda mulher deve ser mãe e muitas que são mães não deveriam ser por não terem vocação e estarem seguindo uma pressão social, eu quis discutir isso em um filme no qual em uma mesma família três mães lidam de forma tão distintas com a maternidade.

2. Como foi o trabalho de ensaio/preparação/laboratório das atrizes?

Como também tenho formação de atriz e estava assumindo ainda a coprodução, senti que precisava de alguém para me ajudar nessa preparação tão necessária .

Chamei então o Chrstian Duurvoort, que já tinha sido meu professor no Estúdio Fátima Toledo, anos atrás, e ele fez um excelente trabalho. Como me identifico muito com o trabalho dele, foi uma ótima parceria. Eu gosto muito de preparar atores, mas assumindo a direção e a coprodução, eu tinha o receio de que, sem a ajuda de um ótimo preparador, o trabalho com os atores, em especial as atrizes, pudesse ser negligenciado. O que não poderia acontecer!

3, Quais foram as dificuldades que você sentiu nesta transição do curta para o longa-metragem?

Eu venho de uma geração que se formou na faculdade em Cinema, e que fez o primeiro trabalho em película. Como não sou de família rica, sabia que só conseguiria fazer filmes através de editais. E assim foi. Fiz meus curtas através de editais, e o longa-metragem também.

Quando comecei a fazer cinema, sempre tinha isso de fazer uns curtas para adquirir experiência e ter currículo para concorrer em editais. Segui à letra esse “mandamento”. Fiz meus curtas e quando tive a ideia de “Mãe” percebi que não seria um curta. Tratei então de desenvolver o argumento, ganhei o edital de desenvolvimento de roteiristas estreantes do antigo Minc , – que hoje graças ao governo Lula voltou a existir – e com o apoio desse edital escrevi o primeiro tratamento do roteiro. Aliás, só tive condições porque tive esse apoio.

E daí fui desenvolvendo outros tratamentos, chamei um amigo para escrever comigo, e enquanto isso fui correndo atrás de formas de viabilizar a produção. Me juntei a outro amigo que acreditou no projeto e ganhamos outro edital. Em razão de toda essa preparação eu não senti grandes dificuldades na transição. Menos de um ano antes eu fiz um curta com parte da equipe que posteriormente fez o longa. Pude ver nesse curta como as coisas poderiam funcionar no longa e tentei evitar desgastes.

Claro que olhando para trás sinto que faria muita coisa diferente no longa, mas também sei q é o exercício da prática que vai ensinando a gente.

Agora tenho outro projeto e já penso o que farei diferente pra não me desgastar tanto. Espero conseguir!

“Mãe”, chegou nesta quinta-feira, 27/04 – com exclusividade em cinema no Estação Net Botafogo e na plataforma de streaming Looke.