TIRADENTES 2015: A PRAÇA É DO POVO.

Celso Sabadin, de Tiradentes.

A 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes tem proposto uma interessante discussão sobre qual seria hoje o lugar do Cinema. Evidentemente, trata-se de uma discussão muito mais provocativa e de reflexões, já que não se espera uma resposta definitiva para tal questionamento. Mesmo porque, não consigo imaginar qual seria “um” único lugar para uma arte tão diversificada e plural como o Cinema.

Uma coisa é certa: aqui mesmo em Tiradentes foi mais uma vez comprovado que um dos lugares do Cinema é a praça pública. Quando não chove (o que infelizmente aconteceu segunda e terça-feira passadas), a praça central da cidade recebe cerca de mil cadeiras que acolhem, da maneira mais democrática possível, qualquer pessoa que se disponha a dedicar alguns minutos de seu tempo para compartilhar a sempre satisfatória experiência de ver um filme numa tela enorme, com som alto, vivenciando sensações em coletividade.

Foi nesta praça que foi exibido, durante a Mostra, o documentário “O Dia do Galo”, de Cris Azzi. O filme registra como foi o dia 24 de julho de 2013 para dez torcedores do Atlético Mineiro, desde as primeiras horas da manhã, até o glorioso final de noite. Para quem não sabe (e os atleticanos sabem), foi em 24 de julho de 2013 que o Galo bateu o Olímpia, do Paraguai, conquistando assim a primeira taça Libertadores da América de sua história.

Não deu outra: o cinema aqui da praça se transformou numa versão reduzida do Mineirão. O público (ou seria a torcida?) cantava junto o hino do time, vibrava, gritava gol. Houve choro e até um maluco que a cada gol do Galo dava cambalhotas debaixo da tela de projeção. Os mais puristas podem até achar um horror assistir a um filme nestas condições. Mas foi uma delícia ver o Cinema cumprir algumas de suas principais funções, como a de reunir o público numa experiência coletiva e, no caso, até interativa, causando os mais variados tipos de emoções.

Há o tempo certo para tudo. Da mesma maneira que há obras reflexivas e intimistas que devem ser apreciadas no silêncio sepulcral de uma sala escura, há filme, digamos, de “torcida”, como este “O Dia do Galo”, que cai como uma luva numa praça cheia de gente.

Este tipo de diversidade é uma das facetas mais apaixonantes do Cinema. Uma arte que não tem hora nem lugar pré-estabelecidos para brotar, que acontece na megatela de um cinemão ou no microespaço de um celular. Que pode ser compartido na multidão de uma praça-estádio ou na solidão de um notebook.

Este é o Cinema: vem televisão, vem VHS, vem DVD, vem computador, vem You Tube, vem celular, vem tablet… e ele nunca morre. Pelo contrário, se reinventa a cada novidade, e renasce, sempre que pode (ou sempre que deixam), num de seus formatos mais primitivos: a exibição em praça pública.

Voltando à pergunta-base da Mostra, qual seria então, hoje, o lugar do Cinema? O de sempre: no coração.

Celso Sabadin viajou a Tiradentes a convite da organização do evento.