TIRADENTES 2016: O CALOR E O VENTO NOS LONGAS “TROPYKAOS” E “ARACATI”.

 Celso Sabadin, de Tiradentes.

“Tropykaos” chegou à 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes com algum histórico de polêmica. O filme teria sido acusado de racismo em outros eventos onde foi exibido, principalmente dentro de sua própria terra natal, a Bahia. A trama é centralizada em Guima (Gabriel Pardal), um jovem poeta que vive uma angustiante crise de criatividade pelo simples fato de não conseguir escrever no escaldante calor que assola sua cidade, Salvador. Enquanto se lança na inglória tarefa de tentar consertar seu ar condicionado, Guima se confessa “geneticamente despreparado” para viver na Bahia. Certamente o fato do personagem ser loiro, de cabelos e pele claros, disparou algumas interpretações mais equivocadas (ou mais acaloradas, para não perder o trocadilho) que consideraram o filme racista.

Particularmente, nada no filme me fez vislumbrar nenhum tipo de preconceito racial. Levado em tom de comédia satírica (que o próprio material de divulgação do longa classifica como “realismo caótico”), “Tropykaos” não só trata com sarcasmo o verão brasileiro em geral e baiano em particular, como também satiriza as explorações comercial e cultural que se cometem no período do Carnaval. Talvez tenha sido forte demais, no entender do aborrecido pensamento politicamente correto, um filme voltar suas lentes contra estas instituições tão idolatradas como o calor e o carnaval, o que poderia ter gerado algumas reações extremadas. Bobagem. Dirigido por Daniel Lisboa, “Tropykaos” deve ser enxergado com o mesmo bom humor com o qual foi concebido.

O toque irônico fica por conta da projeção de ontem (26/01) aqui em Tiradentes ter sido realizada com o ar condicionado do cinema em condições precárias. Felizmente tudo foi consertado a tempo para a sessão seguinte que exibiu o filme “Aracati”, um trabalho que fala justamente… sobre o vento.

Correalizado por produtoras do Ceará e do Rio de Janeiro, o documentário “Aracati” faz um registro visual e poético da região cearense do Vale do Jaguaribe. O rio de curso desviado, “sem dono” no dizer de uma personagem, o açude, os largos horizontes, cidades que morrem e nascem ao sabor das águas redirecionadas pelas questões políticas. Gigantescos captadores de energia eólica ganham sons e ares (também pra não perder o trocadilho) de filme de ficção científica através das lentes de

Aline Portugal e Julia De Simone, as diretoras do longa.

Pelos grandes e amplos espaços perambulam solitários personagens que, assim como o próprio filme, também arriscam seus momentos de poesia. No Ceará, o vento é importante para fazer voar as mágoas do cearense, diz um destes solitários. Vento que, por sinal, acaba sendo o principal personagem do documentário.

Filmar o vento: um desafio nada fácil aceito e cumprido com encantamento por este belo “Aracati”.

 

Celso Sabadin viajou a Tiradentes a convite da organização do evento.

 

 

 

 

.