VARILUX 2018: “PRIMAVERA EM CASABLANCA” REPRESENTOU O MARROCOS NO OSCAR.

Por Celso Sabadin.

Nos anos 1980, um dedicado professor de uma distante comunidade rural marroquina é repreendido pelas autoridades por ministrar suas aulas no dialeto local, e não em árabe, idioma oficial do país. O mestre tem motivos para isso: seus alunos simplesmente não conhecem outra língua a não ser a local. Mas as autoridades são insistentes… e intransigentes. Um corte de tempo traz a história aos dias de hoje, na movimentada Casablanca, onde uma mulher sofre pressões e preconceitos por querer levar sua própria vida da maneira que melhor lhe convier, recusando a se submeter às rígidas convenções sociais do país. A estes personagens se juntarão outros que, aos poucos, comporão uma trama de várias histórias que se tangenciam para falar de preconceitos, intolerância e choques culturais.

Tem me chamado a atenção a grande quantidade de coproduções entre a França e países de cultura árabe que tem chegado aos cinemas do mundo inteiro. A maioria delas, como não poderia deixar de ser, tem como foco principal os choques gerados a partir das diferenças muitas vezes abissais entre a cultura cristã branca dominante da Europa ocidental e a muçulmana/ islâmica. Ainda não tenho uma opinião sólida formada sobre isso. Por um lado, tais filmes ajudam na divulgação/denúncia de uma série de injustiças sociais e pessoais – não raramente contra mulheres e contra as liberdades individuais – mas por outro lado é preocupante o fato deles serem produzidos majoritariamente pelas nações colonizadoras (França, Bélgica…), e não pelos países do mundo árabe, mais frágeis na área da produção e principalmente distribuição cinematográfica. Ainda que escritos e dirigidos por profissionais  de origem muçulmana, a conta é paga pelos dominantes. E quem paga a conta, manda.

Ou, trocando em miúdos, a quem servem basicamente, as mensagens difundidas por estas coproduções? Às denúncias ou à manutenção dos preconceitos? Ratifico que ainda não tenho opinião formada sobre isso, mas o tema merece reflexões.

Escrito e dirigido pelo parisiense de origem marroquina Nabil Ayouch, “Primavera em Casablanca” apresenta uma estética cinematográfica clássica, e brinda o público com uma bela direção de fotografia, principalmente nas cenas iniciais. Não por acaso, coerente com sua narrativa convencional, foi o selecionado pelo Marrocos para representar o país no Oscar.

O filme faz parte do Festival Varilux 2018. A programação está em https://www.varilux.com.br/programacao