“XINGU” É OVACIONADO NA ABERTURA DO AMAZONAS CINE FESTIVAL.

Não poderia ser mais pertinente: o 8º. Amazonas Film Festival foi aberto, na noite de ontem (03/11), com a primeira exibição mundial do aguardado “Xingu”, de Cao Hamburguer. O belíssimo e histórico Teatro Amazonas, lotado, ovacionou o filme após a projeção, aplaudindo de pé não somente o diretor, como também os produtores (Fernando Meirelles e Andréa Barata Riberito) e os atores João Miguel, Felipe Camargo, Maiarim Kaiabi e Totomai Yawalapiti, presentes no evento.

Assumidamente baseado “livremente” em fatos reais, como diz seu letreiro de abertura, “Xingu” romantiza a trajetória dos irmãos Cláudio e Orlando Villas-Boas, e a luta deles pela demarcação das terras indígenas e pela criação do Parque Nacional do Xingu, que por sinal completa 50 anos neste 2011. Mas não se trata apenas de uma cinebiografia, mesmo porque o tema é dos mais fascinantes e, ainda, atuais.

Ao revisitar a atuação pioneira dos Villas-Boas na cultura indígena, o roteiro levanta importantes questões crônicas da nossa história. Entre elas, o olhar e o agir colonizador que nunca deixaram de permear a atuação do poder público (e econômico) sobre os primeiros habitantes do Brasil. O próprio progresso – ou aquilo que chamamos de progresso, com sua feroz atuação predadora – é frontalmente questionado: é isso que queremos? A que custo? É impossível não lembrar de Belo Monte.

Como tudo o que a O2 produz, “Xingu” também é impecável do ponto de vista técnico. Apresenta fotografia, trilha sonora, direção de atores e apuro de produção invejáveis, embora peque no estilo de narrativa adotado. Percebe-se no filme uma intenção de conquistar o mercado internacional utilizando-se para isso das ferramentas deste mesmo mercado. Ou, em outras palavras, segue uma estética de filme de aventura, com cortes rápidos, uma visível pressa no desencadear das ideias, e pouco espaço para reflexão e/ou contemplação. Por vezes, abusa de um certo didatismo, com letreiros explicativos de épocas e lugares, utilização de manchetes de jornais para contextualizar a ação e – como tem acontecido na grande maioria dos filmes brasileiros – também lança mão da muleta da narração em off. Ainda que com certa parcimônia.

Propositalmente ou não, “Xingu” não tem o ritmo da Amazônia e deixa transparecer – para o Bem e para o Mal – que é produzido e dirigido por frenéticos paulistas. E não vai aí nenhum tipo de preconceito, mas apenas uma constatação estilística. Mesmo porque eu também sou paulista.

“Xingu” tem previsão de entrar em circuito comercial em abril de 2012. Já está acertada também, com a Rede Globo, a adaptação do filme para uma minissérie de 4 capítulos, ainda sem data definida de exibição.

Celso Sabadin viajou a Manaus a convite da organização do evento.