“FELIZ QUE MINHA MÃE ESTEJA VIVA” TRAÇA PANORAMA DESOLADOR DAS RELAÇÕES FAMILIARES.
Mostrando uma família divertindo-se na praia, igual a outra qualquer, a primeira cena de “Feliz que Minha Mãe Esteja Viva” tem grande força simbólica. O filho mais velho, Thomas, pula na água e sai nadando rapidamente, para a preocupação do pai, que não consegue segui-lo na mesma velocidade. Na areia, a mãe passa protetor solar, tranquilamente, no filho mais novo, François, que lhe pergunta por que não pode cair na água como seu irmão. A mãe responde: ”Porque estou passando protetor”. Enquanto isso, o filho mais velho parece que se distancia do pai para, propositalmente, deixá-lo em desespero.
Este breve retrato de poucos minutos dá o tom do filme. Trata-se de uma familia disfuncional (redundância?) onde o distanciamento entre Thomas e o pai, vai muito além dos metros de oceano que os separam. Alheia a tudo, a mãe se esmera em – literalmente – proteger o caçula. Flash backs revelam que na verdade Thomas e François são adotados, abandonados por uma mãe biológica mais disfuncional ainda. Mas Thomas não aceita a ideia, e sai à procura de suas origens.
O que se vê a seguir é um triste panorama de sentimentos rudes e pouco (ou nada) afetivos. De todas as partes. Desconstroi-se o mito do amor incondicional dos pais adotivos, na mesma medida em que o relacionamento parental biológico também é enfocado sem calor. Todos os componentes deste imbroglio familiar – seja ele natural ou não – parecem lamentar as opções de vida que tomaram, ou que foram compelidos a tomar.
A felicidade, aqui, é apenas saber que a mãe está viva. Mas não pelos motivos que se supõe.
De maneira coerente, a direção também é fria e rude. Como estilo e opção, não como demérito. Um, no mínimo, curioso trabalho realizado a quatro mãos por Claude Miller e seu filho Nathan. Um raro caso de filme sobre pais e filhos dirigido por pai e filho.
O roteiro foi inspirado num recorte de jornal que relatava um acontecimento real. Tristemente real.