“SANTIAGO, ITÁLIA”, UMA BELA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA E SOLIDARIEDADE.

Por Celso Sabadin.
 
Sempre fui fã do cinema inteligente e despojado de Nanni Moretti. “Habemus Papam”, “O Quarto do Filho” e “Caro Diário” entre outros, estão entre as minhas referências e preferências deste cinema italiano ao mesmo tempo tão genial e tão instável. Não conhecia o lado documentarista de Moretti. E, vendo agora “Santiago, Itália”, fiquei ainda mais fã do diretor.
 
O longa aborda um tema pouco difundido do golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, em 1973. Na ocasião, pressionados e ameaçados pela violência da direita que implantara o golpe, militantes da esquerda descobriram que a embaixada italiana em Santiago era um bom lugar para se refugiar: o muro da imensa residência não era muito alto, a vigilância tampouco era rígida, e o embaixador era dos mais receptivos. Mesmo porque – segundo informa o filme – a Itália foi o único país da Europa Ocidental a não reconhecer o governo golpista assassino de Pinochet. Sim, esse mesmo Pinochet que Bolsonaro vive elogiando em eventos internacionais.
 
Assim, a belíssima propriedade que abrigava a embaixada, com imensos salões e um imponente jardim, rapidamente se transformou num acampamento de refugiados. Moretti refaz esta trajetória e revive esta história através de importantes e emocionantes depoimentos. Gente que vivenciou a época e que hoje só está viva graças à acolhida italiana. Pessoas que conseguiram asilo político na terra de Dante, e para lá viajaram na esperança de logo retornar à normalidade chilena. Uma esperança, para a maioria, jamais realizada.
 
Além dos fortes aspectos humanos e políticos que o filme levanta, “Santiago, Itália” fala muito de perto a nós, brasileiros, não apenas pelo golpe de 1964 que, similarmente aos chilenos, também sofremos, mas talvez principalmente pelo golpe de 2016, ainda em curso, que traz para os dias de hoje todo o sofrimento que o filme registra como sendo do passado.
O longa se encerra com uma dolorida provocação/reflexão: nos individualistas tempos atuais, ainda haveria espaço para tamanha solidariedade demonstrada, na época, pela Itália?
 
“Santiago, Itália” foi o vencedor do prêmio Davi de Donatello na categoria Melhor Documentário, além de render a Moretti o prêmio Nastro d’Argento, concedido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas de Cinema Italianos.
 
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