A VIAGEM ALUCINANTE DE “COISA PÚBLICA”.

Por Celso Sabadin.

No longa “Coisa Pública”, quatro rapazes e três moças compartilham uma república em algum lugar do Brasil: Clarice (Priscila Ubba), Beto (Bruno Pacheco) Otávio (Pablo Diego Garcia), Camila (Dora Figueredo), Mayara (Gabriela Mag ), Luiz (Esdras Saturnino) e Daniel (Leonardo Silva). São jovens contemporâneos mergulhados em suas angústias e aspirações, sonhos e pesadelos, alegrias e comemorações.

Tudo vai bem (na medida do possível) até o momento em que – após uma grande festa – um deles surge misteriosamente morto no banheiro. Exatamente o único personagem negro da trama. Logo se percebe que a tal república que abriga os protagonistas não está simplesmente “em algum lugar do Brasil”: ela é o próprio microcosmo do país.

A partir do desespero coletivo causado pela tragédia, o roteirista e diretor André Borelli mergulha seus personagens – e o público – numa viagem alucinante pelas mazelas que o Brasil vem sofrendo desde o fatídico primeiro de janeiro de 2019: racismo, intolerância, machismo, tortura, misoginia, religiosidade doentia, favorecimentos especiais e violência. Muita violência. E um pouco mais de violência. Quem já viu os trabalhos anteriores do diretor (Descascado, O Tio, O Poço e Quase Livres) sabe o que esperar.

Neste trem fantasma cinematográfico, Borelli lança mão de todos os recursos maneiristas que o audiovisual pode proporcionar, não economizando em enquadramentos desvairados, sons atordoantes, montagem que beira o alucinógeno e violência gráfica que tangencia o gore.

Exagerado? Over? Talvez. Mas você já percebeu direitinho o pesadelo de país em que a gente vem se equilibrando há quatro anos?

Com participação especial de Dan Stulbach (não por acaso no papel de Messias), “Coisa Pública” estreou nos cinemas em 22 de setembro.