AS “CURTAS JORNADAS NOITE ADENTRO” DE UMA NOVA GERAÇÃO EM FUGA.
Por Celso Sabadin.
Entre os anos 1950 e 60, o cinema captou com muita poesia e sensibilidade a alma dos jovens daquela época, filhos do pós-Segunda Guerra, que se viam perambulando por um mundo que se apresentava sem muito sentido. “O Signo de Leão”, “Bonequinha de Luxo”, “A Doce Vida”, “Os Primos”, entre vários outros, retratavam o ceticismo e o niilismo que comandavam as trajetórias (ou a falta delas) daqueles baby-boomers perdidos na noite.
Décadas depois, o mundo está transformado sob vários aspectos, mas as mesmas antigas sensações de perda, de não pertencimento e de falta de perspectivas parecem mais fortes do que nunca. É neste vazio contemporâneo que se apresenta “Curtas Jornadas Noite Adentro”, terceiro longa de Thiago B. Mendonça, o mesmo de “Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita não é um Urso que Dança” (2016) e “Um Filme de Cinema” (2018).
O longa é um mergulho nas vivências de jovens subempregados de São Paulo (mas que poderiam estar – e estão – em qualquer lugar) que encontram em descontraídas rodas de samba a fuga ideal para as mazelas do cotidiano.
Para a criação deste universo de dias massacrantes e noites libertadoras, Mendonça formou um grupo de samba fictício com vários músicos da capital paulista. E não se furtou em abrir os maiores tempos e espaços de seu filme aos momentos de música, flertando assim abertamente com a linguagem documental.
Quem conhece a obra do diretor sabe que sua narrativa privilegia o experimental e o sensorial ao convencional, o que pode causar algum estranhamento aos paladares cinematográficos mais clássicos. Mas quem se dispuser a experenciar uma visão imersiva destas noites regadas a cadências, ritmos e percussões poderá encontrar em “Curtas Jornadas Noite Adentro” uma acolhedora e afetiva viagem por histórias e geografias pouco exploradas pela cinematografia paulista.
“É um filme inspirado em histórias de pessoas reais, seus trabalhos precarizados e suas caminhadas trôpegas pelas noites paulistanas. A cultura do samba, tão presente no Brasil, foi pouco trabalhada no cinema ficcional. Inspira-se em uma frase do mestre Candeia, que dizia: `Um país que deixa a cultura se perder nunca será uma nação´”, afirma Mendonça.
No elenco, Carlos Francisco, Lua Reis, Marquinho Dikuã, Monalisa Madalenae Renato Martins, entre outros.
Com roteiro de Selito SD e do próprio diretor, o longa estreou no último dia 15 de setembro.