ESTRÉIA “1961”, SÉRIE IMPERDÍVEL PARA QUEM BUSCA COMPREENDER O BRASIL.
Por Celso Sabadin.
Diz o ditado popular (e os memes) que o Brasil não é para amadores. E não é mesmo. Trata-se de um país de cultura, hábitos e história difíceis de serem compreendidos. Há, porém, uma saída: a informação. Quando se estuda e se informa a respeito deste ensandecido labirinto sócio político chamado Brasil, há mais e maiores possibilidades de compreensão da nossa própria existência por aqui.
Neste sentido, a série documental “1961” presta um inestimável serviço para quem deseja entender, por exemplo, como um candidato que exibe claros traços de problemas mentais pode se tornar o presidente da República mais votado de todos os tempos. Ou como um pequeno punhado de militares consegue frustrar o clamor popular de milhões de cidadãos. Ou ainda como os cânceres golpistas se perpetuam nas entranhas do poder por décadas e décadas.
São três episódios de cerca de 50 minutos cada, assim divididos:
1 – A Renúncia e O Golpe – Depois de apenas sete meses no poder, Jânio Quadros renuncia à Presidência da República, em 25 de agosto de 1961. Os três Ministros Militares buscam vetar o retorno ao país e a posse constitucional do vice-presidente João Goulart, em pioneira viagem oficial à China.
2 – Legalidade – O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, lidera uma mobilização civil e militar em favor da posse de Jango, também gaúcho, correligionário do PTB e seu cunhado. João Goulart retarda seu retorno ao país, escolhendo uma longa rota durante articulações para sua posse. Forças militares a favor e contra a Legalidade colocam o país à beira de um conflito armado.
3 – Jango com Parlamentarismo – Em 31 de agosto, João Goulart retorna ao país pelo Rio Grande do Sul. Sob a forma de uma emenda constitucional que reduz os poderes de Jango pela adoção do regime parlamentarista, um acordo político-militar supera a crise. Uma ameaça final, sob a forma da Operação Mosquito visando abater o avião presidencial, adia sua posse. Jango assume a Presidência da República em 7 de setembro, apontando o político mineiro Tancredo Neves como Primeiro-Ministro. Militares e civis radicalmente opositores de Goulart e do trabalhismo iniciam a conspiração para sua derrubada pelo golpe de 1964.
Tudo isso é História. Nada disso é passado. Os recentes acontecimentos políticos pelos quais o Brasil vem às duras penas sobrevivendo desde 2016 mostram com clareza que – estruturalmente – pouca coisa mudou por aqui desde 1961. A insaciável vampirização das elites nos pescoços das classes menos favorecidas, amparada pela manipulação da mídia e pela histórica ignorância da classe média faz do país presa fácil para todo e qualquer tipo de ataque à Democracia.
“1961” mostra este processo de forma clara e didática, apoiando-se em raras e espetaculares imagens de arquivo (as cenas de Jango sendo recepcionado na China, por exemplo, são impressionantes), e depoimentos tanto de especialistas que estudaram o tema como de personalidades que o viveram de perto. Tudo isso deliciosamente temperado por impagáveis jingles publicitários e músicas da época.
A série é criada, roteirizada, dirigida e produzida por Amir Labaki, conhecido no meio audiovisual como o criador e diretor do Festival É Tudo Verdade, um dos mais importantes do mundo para o cinema documental. A base do roteiro é o livro “1961 – A Crise da Renúncia e a Solução Parlamentarista”, publicado em 1986, mas a série traz atualizações até 2025, ano em que vários documentos da CIA sobre a situação brasileira da época foram retirados de sigilo.
Imperdível, o primeiro episódio de “1961” vai ao ar nesta quinta-feira, 5 de junho, às 21h30, no Canal Brasil. Os três episódios também estarão disponíveis no Globoplay (Plano Premium) a partir da mesma data.