O EXASPERANTEMENTE REAL “SÍNDROME DA APATIA”.
Por Celso Sabadin.
A notícia já havia sido divulgada por aqui há alguns meses. Mas certamente não obteve a repercussão proporcional à sua gravidade. Na Suécia, uma rara e estranha condição neurológica estava – digamos – “desligando” crianças e jovens. Sem nenhum grande motivo aparente, estes adolescentes e pré-adolescentes repentinamente entravam em estado de suspensão, uma espécie de coma. E assim ficavam por meses, até anos. E ainda ficam. Parecia tema de ficção científica misturada com terror, mas é realidade.
O diretor grego Alexandros Avranas, em parceria com o roteirista Stavros Pamballis, escreveu um filme ficcional sobre o assunto. Ele próprio dirigiu e “Síndrome da Apatia” chegou esta semana aos cinemas brasileiros. O resultado é exasperante: parece mesmo ficção científica misturada com terror. Com o agravante de ser baseado neste nosso cada vez mais estranho mundo real.
Uma família russa – pai, mãe, uma filha pequena e outra adolescente – se refugia na Suécia, vítima de perseguições políticas. Eles solicitam visto permanente no país, mas a falta de provas concretas e conclusivas sobre a violência do governo russo sobre esta família faz com que a permissão seja negada. Sob uma gigantesca pressão psicológica, Katjia, a filha menor, se “desconecta” do mundo. Simplesmente desliga. Parece inexplicável. O desespero da família se potencializa.
Avranas (premiado como Melhor Direção em Veneza por “Miss Violence”) trata o tema com frieza e mecanicidade estéticas que só fazem aumentar o potencial desesperador do assunto. Os personagens suecos são glaciais, quase robotizados, de sentimentos travados, o que contribui ainda mais para a proximidade do filme com a ficção científica. Os russos carregam um misto de sufocadas indignação e violência.
Praticamente todos os enquadramentos de “Síndrome da Apatia” são rigidamente centralizados – a la Kubrick – câmera fixa com planos geometricamente simétricos, sugerindo uma sociedade inorgânica. E cruel.
À exceção de um pequeno ramalhete de flores e de um caderno de capa vermelha (que será fundamental na trama), uma paleta de tons frios e pasteis permeia todos os demais elementos do longa.
Coproduzido por França, Suécia, Alemanha, Estônia, Grécia, Finlândia, “Síndrome da Apatia” foi selecionado para a mostra Orizzonti do Festival de Veneza de 2024, e também foi exibido no recente Festival de Cinema Europeu Imovision.