“OH, CANADÁ”, ENTRE VERDADES E DELÍRIOS.
Por Celso Sabadin.
Semduvidamente, como diria Odorico Paraguaçu, os tempos mudaram. Se estivéssemos nos anos 1980/90, o lançamento de um filme estrelado por Richard Gere e Uma Thurman, com direção de Paul Schrader, ganharia grandes espaços nos cadernos de cultura dos principais jornais. (Em outra ocasião eu explico o que é jornal e, principalmente, caderno de cultura).
Nesta nossa contemporaneidade, porém, como nem Richard Gere, nem Uma Thurman, muito menos Paul Schrader fazem filmes de super heróis, a estreia de “Oh Canadá” fica restrita a pequenos espaços da mídia. Azar da mídia.
A trama tem início mostrando Leo Fife (Gere), um fictício documentarista importante em fim de carreira (e de vida) que aceita ser biografado pela equipe cinematográfica de um ex-aluno seu. A esposa de Leo, Emma (Uma Thurman), preocupada com o debilitado estado de saúde do marido, é contra a ideia. Leo, porém, insiste em conceder a entrevista necessária ao documentário. E exige que Emma esteja presente, pois promete transformar as filmagens em palco de suas mais secretas confissões.
Tem início assim um intrincado e intrigante jogo de verdades e delírios que se equilibra perigosamente pela tênue linha que separa o fato do fake, o acontecido do imaginado ou, em última instância, o documentário da ficção. Antigas feridas são abertas, o passado vem à tona. Mas a verdade vale a pena? “Só consigo falar a verdade para uma câmera”, afirma Leo, que passou toda a vida por detrás de uma (câmera, não Thurman).
O roteiro foi baseado no livro “Foregone”, publicado em 2021 por Russell Banks, que não chegou a ver o filme concluído: ele faleceu em 2023, pouco mais de um ano antes da estreia do longa, ocorrida em maio de 2024, na competição oficial de Cannes. Banks também é o autor das obras nas quais se basearam filmes como “O Doce Amanhã” (1997), de Atom Egoyan, e “Temporada de Caça” (1997), adaptado por Paul Schrader.
O próprio Schrader também roteirizou e dirigiu “Oh, Canadá”, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 05/06. O filme também marca o reencontro de Schrader com Richard Gere, mais de 40 anos depois de “Gigolô Americano”.
Quem dirige
Roteirista de clássicos de Martin Scorsese como “Taxi Driver” (1976), “Touro Indomável” (1980) e “A Última Tentação de Cristo” (1988), Paul Schrader estreou como diretor com “Vivendo na Corda Bamba” (1978), que ganhou o prêmio principal no Festival Internacional de Valladolid, na Espanha. Desde então, dirigiu outros 22 longas para o cinema e um para a TV, além de um curta-metragem.
Entre seus filmes mais famosos, estão “Hardcore” (1979), que concorreu ao Urso de Ouro no Festival de Berlim; o sucesso “O Gigolô Americano” (1980); o cult movie “A Marca da Pantera” (1982); “Mishima – Uma Vida em Quatro Capítulos” (1985), seu primeiro filme a concorrer à Palma de Ouro em Cannes, de onde saiu com o prêmio de melhor contribuição artística; e “Temporada de Caça” (1997), que deu a James Coburn o Oscar de ator coadjuvante e a Nick Nolte uma indicação como melhor ator. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA só reconheceu pessoalmente Schrader com o longa “Fé Corrompida” (2017), que disputou o Oscar de melhor roteiro original.