PERDAS, BUSCAS E TRANSFORMAÇÕES EM “LEVADOS PELAS MARÉS”.

Por Celso Sabadin.

Escolha um bom lugar, relaxe na poltrona do cinema, abra bem seus olhos, ouvidos e sensibilidades, e deixe-se levar por “Levados pelas Marés”, em cartaz deste a última quinta-feira, dia 19.

O novo longa do premiadíssimo Jia Zhangke propõe uma viagem de 20 anos pelas transformações da China, através das idas e vindas do casal Qiaoqiao e Bin. Ele, vivido por Zhubin Li; e ela, interpretada por Tao Zhao, esposa do diretor na vida real.

Como já é de se esperar de um filme de Zhangke, tudo passa longe do convencional. Seus já tradicionais belos e longos planos contemplativos se unem a cenas de outros filmes do diretor (incluindo “Prazeres Desconhecidos”, “Em Busca da Vida” e “Amor Até as Cinzas”) formando uma poética colcha de retalhos que resulta em uma bela alquimia entre documentário e ficção.

O roteiro de Jiahuan Wan e do próprio diretor acompanha não apenas os destinos amorosos e desamorosos da dupla protagonista, como também – e principalmente – alguns momentos marcantes do país, como a escolha de Beijing como sede das Olimpíadas, o gigantesco impacto social da construção da não menos gigantesca Barragem das Três Gargantas, os êxodos populacionais em busca de melhores empregos, chegando até a pandemia do Covid 19.

Tudo simbolicamente representado por uma protagonista forte que – não fica claro se por opção ou não – não diz uma palavra.

“Levados pelas Marés” foi selecionado para a mostra competitiva principal de Cannes 2024 e ganhou o prêmio da crítica na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

Quem dirige

Jia Zhangke nasceu em Fenyang, China, em 1970. Um dos mais importantes cineastas em atividade, realizou, entre outros, os filmes “Artesão Pickpocket” (1997), premiado no Festival de Berlim, “Plataforma” (2000), premiado no Festival de Veneza, “O Mundo” (2004), que recebeu o prêmio da crítica na 29ª Mostra, “Em Busca da Vida” (2006), vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza, “24 City” (2008), “Um Toque de Pecado” (2013), prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes, e “Amor Até as Cinzas” (2018). Na 31ª Mostra, em 2007, o cineasta veio a São Paulo para apresentar uma retrospectiva de sua obra. Em 2020, na 44ª Mostra, Zhangke assinou o pôster da edição, além de exibir o curta “A Visita” (2020) e o documentário “Nadando Até o Mar se Tornar Azul” (2020).