“TÔ RYCA! 2” É A CARA DO BRASIL. PARA O BEM E PARA O MAL.

Por Celso Sabadin.

“Tô Ryca! 2” pode não ser um grande filme, ou uma comédia das mais divertidas. Como de fato não é. Mas, pelo menos, não é tóxica, nem nociva, como acontece com muitos produtos deste gênero que se pretendem populares. Sim, segue caminhos popularescos estilo “Zorra”, em busca de uma audiência massiva, mas em momento algum ofende seu público: pelo contrário, busca uma saudável identificação com ele.

Ao tornar-se pobre novamente por causa de um imbróglio jurídico, Soninha (Samantha Schmütz), que havia enriquecido no primeiro filme, se vê obrigada a trabalhar, não em um, mas em três empregos simultâneos. E é neste momento que o roteiro de Fil Braz (também roteirista da série de sucesso “Minha Mãe é um Peça”) cresce em ironia e sátira social. A personagem utiliza a queda brusca de sua condição financeira para criticar/denunciar a elite branca de tradição escravocrata, o empresário sempre disposto a subverter as leis trabalhistas, o poder público (principalmente o do Rio de Janeiro), a instituição brasileira do “pobre de direita”, e até os grandes veículos de comunicação (em um filme coproduzido pela Globo).

As críticas também resvalam no poder judiciário e nas armações dos representantes do Direito. É a cara do Brasil.

Contudo, não espere demais. Seguindo uma antiquíssima tradição do humor audiovisual brasileiro, nascido lá nos tempos do rádio, em várias oportunidades o filme se ocupa em “explicar” a piada, como que partindo do falso pressuposto das baixas capacidades cognitiva e interpretativa do público. Em determinada cena, por exemplo, alguém serve um prato de “macarronese”, e logo corre alguém para explicar que se trata de macarrão com maionese, como se ninguém tivesse entendido. Outro exemplo: em uma entrevista de emprego, a candidata mente, dizendo ter “Inglês superior”. O entrevistador lhe faz então uma pergunta em inglês, das mais simples, que a entrevistada não compreende. Ele reclama: “Mas isso é inglês básico!”, no que ela prontamente responde que o básico ela não aprendeu: só o superior, como foi dito. Fim da piada? Não. É necessário um diálogo “complementar” explicando para o público que básico é inferior a superior. E por aí vai.

O tom sempre alto/gritado dos personagens também é outra característica fundamental da comédia, e a explosão de cores, músicas e ritmos compõe a overdose de estímulos audiovisuais em que sutilezas passam longes.

A direção é de Pedro Antonio Paes, o mesmo do primeiro episódio, de 2016.