DRAMA PORTUGUÊS E CURTA MARANHENSE FORAM OS DESTAQUES DE ONTEM (26) NO FESTIVAL CINEMA DA FRONTEIRA.
Não se trata de nenhum tipo de alarmismo, mas apenas de uma simples constatação: o mundo vive uma guerra civil. Pode não ser declarada, pode não ter bombas nem tropas nas ruas, não é absolutamente nenhuma novidade, mas o planeta inteiro vive um fortíssimo clima de guerra civil entre dominantes e dominados. As armas são as mais diversas: olhares, gestos, atitudes, agressões… filmes.
A produção portuguesa “Por Aqui Tudo Bem”, exibida nesta terça-feira (26) no 5º Festival Internacional Cinema da Fronteira explicita muito bem uma das inúmeras facetas desta guerra. A partir de uma história real, a diretora Pocas Pascoal mostra o drama de duas jovens irmãs angolanas que vivem clandestinamente nos arredores de Lisboa à espera da mãe, que tenta escapar de Angola durante a guerra que acontece naquele país.
O clima é de uma angustiante mistura de tristeza e esperança. Um simples telefone público é o único elo entre esta mãe que nunca aparece e as adolescentes que se viram obrigadas a amadurecer cedo demais. O mesmo telefone que recebe uma cusparada de um homem branco, pelo simples fato dele perceber que seria utilizado por duas negras. Maria e Alda, as irmãs, estão, ao mesmo tempo, a um passo do céu e do inferno, caminhando no fio da navalha entre a família e a solidão, entre a morte e o sonho de uma vida nova em Paris. Na escala dos predadores humanos, elas estão no pior patamar, mais baixo ainda que dos próprios angolanos que, de alguma forma, conseguirem vencer na Europa e não se furtam em explorar seus próprios compatriotas.
Em meio a tudo isso, a dor e a eterna ironia de tentar encontrar um porto seguro justamente no pais colonizador que provocou a miséria do colonizado, que agora procura a sobrevivência neste cínico círculo vicioso.
“Por Aqui Tudo Bem” é um filme de grande emoções entaladas na garganta, típicas de um povo que aprendeu a engolir o choro mas que nunca deixa de lutar. A diretora opta pelo bem-vindo caminho da sobriedade narrativa, contida porém cruel, onde o desespero fica à flor da pele e não explode. O show de interpretação das duas atrizes protagonistas compensa os deslizes do elenco de apoio.
“Por Aqui Tudo Bem” ganhou o prêmio de Melhor Filme Narrativo (o que seria exatamente essa categoria?) no Los Angeles Film Festival.
Após a exibição do longa, o 5º Festival Internacional Cinema da Fronteira exibiu uma programação competitiva de curtas onde se destacou – de longe, muito longe – a produção maranhense “No Interior da Minha Mãe”. Roteirizado, escrito e dirigido por Lucas Sá, o curta documenta com bom humor e veracidade uma das experiências mais bizarras que pode acontece na vida de cada um de nós: passar as férias com a família.
Celso Sabadin viajou a Bagé a convite da organização do Festival.