HUPPERT DÁ UMA DE “SALVADORA BRANCA” EM “A PRISIONEIRA DE BORDEAUX”.

Por Celso Sabadin.

Os cinéfilos já se acostumaram a identificar a pequena (1,57m) grande atriz Isabelle Huppert como garantia de qualidade. E não por acaso: com quase 160 créditos de atuação em mais de meio século de carreira, ela é a atriz mais indicada da história do prêmio César, com 16 nominações e 2 vitórias. Isso sem falar nas premiações dos grandes festivais internacionais. Nesta década, La Huppert tem atuado numa média de três longas por ano, e dificilmente erra em sua)s escolhas.

“A Prisioneira de Bordeaux”, que ela estrelou ano passado, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 07/08, com distribuição da recém-fundada Autoral Filmes, empresa originária dos sócios do Paradigma Cine Arte, instituição cultural de Florianópolis.

Aqui, ela vive Alma, uma mulher solitária que inicia uma amizade com a jovem Mina (a franco-tunisiana Hafsia Herzi). A situação seria corriqueira não fosse o local onde elas se conhecem: na antessala de um presídio, pois ambas têm seus respectivos maridos cumprindo pena. Alma é branca e rica; Mina é árabe e passa dificuldades para sustentar seus dois filhos pequenos.

Alma então oferece a Mina hospedagem gratuita em sua bela mansão em Bordeaux, com direito a levar as crianças e usufruir dos serviços de sua governanta. Em outras palavras, Alma assume amplamente seu lado “white savior” (salvador branco), expressão que designa narrativas nas quais protagonistas se revestem da condição de heróis através do “mérito” de “salvar” pessoas não brancas de situações de vulnerabilidade. Sim, é uma visão racista.

Mas o filme não para por aí. (Cuidado que lá vem spoiler). Mesmo depois de receber todas as benesses de sua ‘”salvadora”, a jovem de origem árabe ainda tenta trai-la. E tendo como cúmplice o único personagem negro da trama. A branca a perdoará.

Exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes, “A Prisioneira de Bordeaux” tem roteiro de Pierre Courrège, François Bégaudeau e da própria diretora, Patricia Mazuy. A produção, obviamente, é totalmente francesa.

 

Quem dirige

 

Patricia Mazuy nasceu em Dijon, França, em 1960. Começou a se envolver com cinema através do cineclube da escola, onde desenvolveu sua paixão por westerns e filmes de suspense. Após estudar em uma escola de negócios, Mazuy mudou-se para Los Angeles, onde dirigiu um curta-metragem e conheceu Agnès Varda e Sabine Mamou. Com o apoio de Varda e Mamou, Mazuy começou a trabalhar como assistente de direção e editora em filmes como “A Room in Town” (1982), de Jacques Demy, e “Vagabond” (1985), de Agnès Varda. Mais tarde, ela se dedicou à direção de seus próprios longas-metragens, como “Thick Skin” (1989). Ao longo da sua carreira, Mazuy dirigiu vários filmes, incluindo “Saint-Cyr” (2000), “Basse Normandie” (2004), “Of Women and Horses” (2011), “Paul Sanchez Is Back!” (2018) e “Saturn Bowling” (2022).