“VIVA A LIBERDADE” É UMA IRÔNICA MISTURA DE “HABEMUS PAPA” COM “O PRÍNCIPE E O MENDIGO”.
Não é exatamente uma novidade. A premissa básica pode ser claramente encontrada no clássico “O Príncipe e o Mendigo”, que Mark Twain escreveu em 1881. Mas não há como negar: à luz dos novos tempos, a comédia dramático-política (duro vai ser encaixar isso na prateleira de alguma videolocadora) “Viva a Liberdade” é uma delícia de ser vista!
O ponto de partida lembra uma espécie de “Habemus Papa” político-partidário: o líder do principal partido da oposição, Enrico Oliveri (Toni Servillo, de “A Grande Beleza”, em marcante interpretação), está numa profunda crise. Cansado, abatido, em baixa nas pesquisas, e desacreditado pelos seus próprios companheiros, certa noite ele simplesmente faz as malas e desaparece. Seu inexplicável sumiço causa um grande rebuliço nos bastidores da política italiana e na opinião pública, e agora os responsáveis pelo partido terão de fazer o possível e o impossível para tentar contornar uma situação tão constrangedora. A solução virá de uma forma inesperada, repleta de ironia e poesia.
“Viva a Liberdade” é aquele tipo de filme que se parece com alguns outros já vistos, que aborda um tema que durante todo o tempo da projeção nos parece familiar, mas que acerta em cheio ao (re)questionar o patético papel da política e dos políticos na nossa sociedade. Os limites da mentira e da hipocrisia, as diferentes opções de vida de pessoas tão iguais, os jogos de poder, a manipulação popular, tudo passa pela lente do diretor Roberto Andò com altas doses de sarcasmo e bom humor. Andò, por sinal, não apenas dirigiu o filme como também o corroteirizou (junto com
Angelo Pasquini) e escreveu o livro “Il Trono Vuoto”, no qual tudo se baseia. Raro caso de cineasta que roteiriza e dirige filmes a partir de seus próprios livros, ele já havia feito o mesmo percurso em “Sotto Falso Nome” (de 2004) e “Viaggio Segreto” (2006), ambos inéditos no circuito comercial brasileiro.
A cena onde um jornalista entrevista um sósia do protagonista e é enganado por ele remete à velha frase “a vida imita a arte”.
“Viva a Liberdade” ganhou dois prêmios David Di Donatello: roteiro e ator coadjuvante para Valerio Mastandrea, no papel do assessor do protagonista.

